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- JANUS 2004 -

Janus 2004



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Identidades e conflitos do Magrebe ao Médio Oriente

Jorge Heitor *

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O Reino de Marrocos é, para os povos da Península Ibérica, o mais próximo e importante dos seus vizinhos e aquele por onde começa todo o conhecimento que têm da África do Norte, o que o transforma em autêntico paradigma do mundo que vai das velhas Colunas de Hércules ao golfo Pérsico, passando pelo Egipto que foi faraónico. De Marrocos sabemos que é a vastidão a partir da qual, no século VIII da era cristã, os muçulmanos procuraram entrar na Europa; e sabemos também que ainda hoje dali poderão vir fortes desafios, se acaso ali se instalar o fervor fundamentalista que se tem vindo a impor noutras parcelas do vasto Islão. Por isso mesmo, por o Ocidente ter visto o regime de Hassan II como uma trincheira firme contra o avanço das práticas radicais existentes mais a Leste, é que se tolera sem grandes queixas que o Reino vá descendo pela costa do Atlântico abaixo, anexando as terras do Cabo Bojador e outras paisagens do Sara Ocidental, tão ricas em fosfatos.

A questão saraui é hoje o mais importante conflito interno marroquino, fazendo esquecer o facto de metade da população do país ser de cultura berbere e não árabe, bem como as profundas bolsas de miséria que ainda existem, num Estado que de outras formas apresenta portentosas construções modernas, como a grande mesquita que na década de 80 se ergueu em Casablanca, à beira do Oceano. Seguindo para Oriente pela margem meridional do mar Mediterrâneo, depara-se-nos a Argélia, há 40 anos menina dos olhos do colonialismo francês e hoje um confuso charco de sangue onde alguns sonham com a restauração do regime militarizado de Houari Boumediene — um regime de generais que tolerassem a dureza da lei islâmica.

Paredes meias com o drama argelino está a aparentemente estabilizada Tunísia, rainha do turismo, onde o general disfarçado em civil Zine el-Abidine Ben Ali substituiu em 1987 o presidente "vitalício" Habib Bourguiba e se fez eleger chefe de Estado logo em 1989, sem dar muito que falar de si na imprensa internacional. Depois, seguindo pelas terras que do Sara Ocidental se estendem até à Ásia Menor, temos a Líbia do coronel Kadhafi, que desde 1969 tem vindo a perpetuar um regime político que é uma versão pessoal de socialismo nacional, e que elegeu os Estados Unidos como principal inimigo exterior. E o Egipto, potência regional de importância estratégica e peça de primeira importância em todas as mediações necessárias na região, com todo o seu peso militar, político e cultural, formado ao longo de dezenas de séculos, desde os tempos faraónicos até aos de Gamal Abdel Nasser. Hoje, o Egipto é igualmente flagelado por um terrorismo fundamentalista que atinge em primeiro lugar a principal indústria nacional, o turismo.

 

Conflito israelo-árabe

Fazer com que o Egipto, Israel, a Palestina, a Turquia, a Síria e o Líbano sejam terras estáveis é preocupação maior dos Estados Unidos e da Europa, que desejariam ver instalada em toda a região uma paz fiável e duradoura. Mas o conflito israelo-palestiniano é o principal foco de tensão em toda essa vasta área e não deu, em 1997, sinais de apaziguamento suficientemente críveis. Norte-americanos e europeus querem levar Israel a devolver os montes Golã à Síria e fazer com que esta deixe de se envolver demasiado nos assuntos libaneses, coisa que desde há 2000 anos tende a fazer, desde que os habitantes de Sídon, de Tiro e das demais cidades fenícias dominavam o comércio no Mediterrâneo. A comunidade internacional também não aceita de bom grado que Israel tenha anexado a parte oriental da cidade de Jerusalém e esteja a colocar tantas dificuldades à entrega integral de toda a Cisjordânia (margem ocidental do Rio Jordão) à Autoridade palestiniana, nome provisório de uma futura Palestina independente. O pleno entendimento entre israelitas e palestinianos é o objectivo final para a zona a que os cristãos chamam terra Santa, estendendo-se depois os acordos de cooperação à vizinha Jordânia, desde há muito associada a tudo o que diz respeito ao povo palestiniano.

Quase no fim da nossa ronda até ao golfo Pérsico e ao estreito de Ormuz, depara-se-nos ainda o drama curdo, o regime altamente militarizado do Iraque e a República Islâmica do Irão. Estes dois países, vizinhos e rivais, têm insistentemente construído ameaças globais à ordem internacional vigente, o primeiro devido ao expansionismo do seu líder aparentemente vitalício, Saddam Hussein, o segundo por se ter transformado na sede mundial do fundamentalismo islâmico agressivo – a nova ideologia do Islão pobre. Os curdos são perto de 22 milhões, divididos entre a Turquia, o Iraque, o Irão e a Síria, e as contingências da História ainda não lhes permitiram constituir uma entidade política própria, sendo pois dos povos mais desprotegidos da zona.

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Durante o segundo semestre de 1997 surgiram indícios de que a Síria, o Irão e o Iraque estariam a procurar reactivar velhos entendimentos, de modo a melhor enfrentarem, porventura, a desconfiança de que são alvo por parte de Washington, que os continua a colocar na lista de países "mal comportados", ao lado de Cuba, da Líbia, Coreia do Norte e Sudão. Hoje, com o fim da Guerra Fria e quando o Kremlin já não é, para os ocidentalistas convictos, o "Coração do Mal", a maior parte dos regimes considerados perigosos para a ordem vigente a nível internacional situa-se exactamente nesta faixa de territórios, predominantemente muçulmanos, que vai do Magrebe às costas da velha Ormuz, hoje a cidade portuária iraniana de Bandar Abbas. 

 

Informação Complementar

Ásia Central

Desenhando-se para Oriente a partir da costa do mar Cáspio, não longe do Mediterrâneo Oriental, fica a Ásia Central, integrada pelo Cazaquistão, a Turqueménia, o Uzbequistão, o Tajiquistão e a Quirguízia. Trata-se de um conjunto de ex-repúblicas soviéticas, limitadas a norte pela Rússia, a leste pela China e a sul pelo Irão e pelo Afeganistão. Tornadas independentes em 1991, são Estados de maioria muçulmana, mas onde o fundamentalismo tem conseguido fracas expressões. O Cazaquistão, apesar de membro da CEI, promulgou no final de 1991 a lei da intangibilidade das fronteiras para se proteger das exigências russas no seu norte, adoptou o casaque como língua oficial em 1995 com latinizacão da ortografia e apostou em contactos fortes com o eixo turco e o eixo Irão-Afeganistão-Paquistão.

É membro do FMI, da OCDE, da ONU e da Unesco e a sua relevância internacional deve-se sobretudo ao facto de ser a quarta potência nuclear da ex-URSS. A Turqueménia tenta sair do isolamento apoiando-se sobretudo em políticas bilaterais com a Turquia e o Irão (a quem fornece gás natural) e no conjunto das solidariedades regionais. O Uzbequistão continuou, após a independência, nas mãos dos "aparatchiks" do Partido Comunista, renomeado Partido Democrático Popular, que passou a defender uma ideologia nacionalista. Tachkent, a capital, é a sede da direcção espiritual dos assuntos religiosos da Ásia Central. O Tajiquistão é a república mais muçulmana da CEI e a história da sua independência recente tem sido marcada por confrontos, por vezes sangrentos, entre o Partido Comunista — que manteve o seu nome — e as oposições. O seu equilíbrio interno tem estado muito dependente da situação política no Afeganistão. A Quirguízia, membro da CEI como todos os outros, tem contenciosos territoriais com o Uzbequistão e com a poderosa China, tentou maior abertura política apesar de, também ali, os ex-comunistas se terem mantido no poder, e tem tentado afastar a influência islâmica.

 

Referendo no Sara Ocidental

O antigo secretário de Estado norte-americano James Baker, como representante do secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, deverá marcar em 1998 a data para o início de uma campanha com vista ao referendo de que o povo do Sara Ocidental está à espera desde há mais de seis anos, para decidir se vai continuar integrado no reino de Marrocos ou se segue o seu próprio caminho, com direito a uma República autónoma. A marcação será feita quando James Baker entender estarem finalmente reunidas todas as condições para uma campanha livre e justa, uma vez completado o processo de identificação de todos os sarauis com direito a voto, que são pelo menos 80 000 mas que poderão eventualmente ultrapassar os 90 000, tudo dependendo dos critérios que vierem a prevalecer.

Há muito que a ONU está a tratar de organizar um referendo para determinar o futuro do Sara Ocidental, território de 209 000 quilómetros quadrados cuja população, pelo facto de ser tradicionalmente nómada, tanto podendo estar ocasionalmente ali como nas imediações, ainda hoje não se sabe muito bem se é constituída por 150 000, por 200 000 ou por mais pessoas. Trata-se de um problema geopolítico particularmente complexo e que tem oposto a Hassan II a Frente Polisário, cuja rectaguarda se situa na região argelina de Tindouf, de onde muitos refugiados deverão regressar agora a paragens abandonadas há mais de 20 anos se acaso desejarem ter o direito de participar no referendo, que de qualquer modo nunca se deverá concretizar antes do último trimestre de 1998.


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* Jorge Heitor

Jornalista do PÚBLICO.

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