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As transformações do sistema financeiro

Henrique Morais *

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O sistema financeiro tem vindo a registar nos últimos anos alterações significativas à escala mundial as quais, de uma forma geral, estiveram associadas a sucessivos processos de concentração bancária, através de aquisições ou de fusões entre instituições.

As megafusões entre os grandes grupos financeiros iniciaram-se nos Estados Unidos, tendo posteriormente alastrado à Europa. Nos Estados Unidos, a fusão entre o Citicorp e o Grupo Travellers agitou particularmente o mercado, envolvendo activos superiores a 700 biliões de dólares, enquanto na Europa uma das operações mais significativas ocorreu entre a União de Bancos Suíços e a Sociedade de Bancos Suíços.

Os números são efectivamente elucidativos quanto à importância do processo de concentração bancária: em 1997 ocorreram a nível internacional 99 fusões (75 no ano anterior) que corresponderam a 24 560 milhões de contos (6 180 em 1996). Face a esta realidade, vão-se sucedendo análises mais ou menos elaboradas que pretendem explicar as motivações para o fenómeno em causa. Em primeiro lugar, salientam-se as economias de escala que poderiam ser obtidas pelo aumento de dimensão das instituições. No entanto, os estudos disponíveis até ao momento sobre a relação entre a dimensão e a eficiência no sistema financeiro não parecem apontar para a existência de economias de escala no sector, desde que a dimensão se situe acima de um limiar mínimo correspondente, em Portugal, a um banco médio.

As conclusões não poderão todavia ser tão imediatas dado que, na generalidade dos casos, a alternativa para os bancos passa pela aquisição de outras instituições como forma de aumentar a sua própria dimensão e eficiência ou, ao invés, ser sujeito a uma oferta pública de aquisição mais ou menos amigável ("eat or be eaten").

A dimensão surge ainda como um factor importante de sucesso para o sector bancário, nomeadamente no espaço da União Europeia, na medida em que os bancos de maior dimensão poderão absorver ou atenuar mais eficazmente os custos relacionados com a passagem do milénio e com a adopção do euro através dos respectivos capitais próprios. Deste modo, as instituições de dimensão média ou reduzida terão a sua rentabilidade mais penalizada, em termos relativos, pela necessidade de desenvolver novos sistemas de informação e de controlo, bem como de introduzir processos tecnológicos inovadores.

Para além disso, com o euro os grandes bancos nacionais tornar-se-ão "apenas" importantes bancos regionais, pelo que a eventual procura de economias de escala poderá efectivamente motivar a concentração. Em segundo lugar, o processo de concentração aparece claramente favorecido pelo excesso de bancos (e de balcões...) que caracteriza alguns países europeus – como exemplos, no Reino Unido existe uma agência bancária por cada 3000 habitantes, atingindo este indicador 2000 habitantes no caso de França e da Alemanha.

Ora, o desaparecimento do risco de câmbio e o surgimento de taxas de juro harmonizadas no espaço da União, deverá agravar o problema do excesso de oferta da rede bancária, podendo propiciar as fusões e as aquisições.

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As economias de gama configuram ainda outro factor explicativo do processo de concentração bancária. Trata-se de aproveitar a mesma infra-estrutura de base para a comercialização de produtos diferenciados, ou seja, a rede bancária pode ser utilizada para actividades tão distintas como a comercialização de seguros, o leasing, a colocação de unidades de participação de fundos de investimento e outras.

Em Portugal assistiu-se nos últimos anos a um fenómeno idêntico ao descrito nos restantes países, existindo hoje cinco grandes grupos que em conjunto controlam cerca de 85% do mercado bancário em Portugal, gerando ainda aproximadamente 90% dos lucros totais do sector.

O processo de concentração passou, no nosso país, por sucessivas aquisições de bancos nacionais e, nalguns casos, pela compra de seguradoras que pertencem igualmente aos principais grupos económicos do sector. Não obstante, os grupos bancários de maior dimensão continuam a ocupar lugares modestos no ranking europeu e, por outro lado, escasseiam no mercado interno os chamados bancos "Opáveis", ou seja, que possam ser adquiridos. Deste modo, e uma vez aceite que o aumento de dimensão média dos bancos em Portugal deverá ser vital para a sustentação da rendibilidade do sector a prazo, em especial num cenário de concorrência alargada que é propiciado pelo euro, resta aparentemente uma alternativa: a aquisição de bancos no exterior, quer na vizinha Espanha, quer ainda no continente americano (por exemplo, no Brasil) ou, eventualmente, a realização de investimentos em África.

 

Os gigantes e os anões

Um estudo recente da Coopers & Lybrand alertava para a eventual necessidade de a banca europeia vir a dispensar nos próximos 7 anos cerca de 40% dos seus efectivos, em particular, para fazer face às exigências da moeda única. Nesse mesmo estudo, afirmava-se que o futuro dos serviços financeiros poderia passar por um sistema de franchising, criando-se fundamentalmente quiosques bancários e lojas expresso.

Para além disso, outras abordagens defendem que os resultados do sector serão fortemente afectados pelas medidas de restruturação anunciadas por alguns bancos europeus, devendo existir um período de 2 anos até que os resultados por acção possam voltar a atingir valores "normais". Acrescentam alguns autores que o investimento em acções do sector financeiro nalguns países começa a proporcionar rendibilidades inferiores às obtidas em títulos da dívida pública, pelo que os bancos deveriam privilegiar gradualmente as vertentes de consultoria especializada e de gestão de carteiras dos clientes, sob pena de podermos caminhar a passos largos para uma sociedade em que o papel dos intermediários financeiros tenderia a ser residual.

Num ponto parece existir agora algum consenso: no médio prazo deverá haver lugar para dois tipos de instituições financeiras, os grandes bancos e os bancos locais que explorem nichos específicos de mercado.

Os bancos de maior dimensão estarão em posição privilegiada para enfrentar os grandes embates que correspondem ao aparecimento do euro e à transição para o ano 2000. Por outro lado, estas instituições poderão investir mais facilmente em novos mercados e em parcerias em países terceiros.

Os bancos locais beneficiam, desde logo, de um profundo conhecimento dos clientes, podendo ainda proporcionar um tipo de serviço mais personalizado e que seja do agrado de uma franja significativa da população.

Um bom exemplo da importância dos bancos regionais ou locais é a Alemanha, onde cada "Sparkassen" tem normalmente um ou dois balcões prestando um serviço verdadeiramente personalizado aos seus clientes. É aliás sintomático verificar que estas instituições têm resistido melhor à onda de fusões que também afectou fortemente a Alemanha.

Em qualquer dos casos, quer se trate de bancos de grande dimensão ou mais pequenos, a instituição financeira do século XXI deverá fazer assentar as suas vantagens comparativas em dois pontos essenciais: os sistemas informáticos, que deverão ser cada vez mais sofisticados e estar à altura de responder às exigências dos clientes, e uma boa rede de telecomunicações. De outra forma, às fusões e aquisições poderão suceder-se fenómenos bem mais complicados que passem, nomeadamente, pela famigerada desintermediação financeira.

 

Informação Complementar

"O descalabro nipónico"

A tendência para a concentração no sector financeiro, nomeadamente através de aquisições ou de fusões de bancos, foi acompanhada nos últimos anos por um fenómeno com origem na Ásia, em especial no Japão, e que se propagou, embora de forma, para já, menos intensa, à Europa e aos Estados Unidos: referimo-nos à falência de bancos na sequência de alguns anos de maus resultados financeiros.

A este propósito, é particularmente elucidativo que oito dos dez bancos que apresentam maiores prejuízos sejam bancos nipónicos (ver quadro Os Bancos com Maiores Prejuízos), o que traduz com particular realismo a situação periclitante do sistema financeiro no Japão, tendo-se assistido em 1998 a algumas falências de empresas financeiras de dimensão significativa. Os bancos portugueses parecem imunes a esta onda de choque que afectou o sistema financeiro a nível internacional, não se tendo sequer assistido a quebras significativas nos seus resultados, pelo que os próximos anos poderão ser decisivos para averiguar até que ponto a crise financeira poderá ter repercussões no nosso país.

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* Henrique Morais

Licenciado em Economia pelo ISEG. Docente na UAL.

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