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Alemanha: do crescimento lento à aposta na China

Félix Ribeiro *

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Podemos afirmar que no início da presente década a economia alemã continuava especializada nas indústrias em torno das quais se operou o milagre económico do pós-guerra – mecânica, electromecânica, automóvel, engenharia pesada, química dos materiais, química farmacêutica e fitoquímica. O que significa que a Alemanha está mal representada nas indústrias e serviços associados à terciarização da economia e à criação da sociedade da informação, típicas dos países desenvolvidos, estando no entanto melhor posicionada para responder ao aumento da procura de produtos das indústrias do ambiente e da saúde (embora sem presença de líder nas áreas motoras da biotecnologia). Está, no entanto, muito bem colocada para responder à dinâmica da industrialização de países em desenvolvimento ou à modernização industrial dos países em transição para a economia de mercado – China e Europa de Leste são grandes mercados para a Alemanha.

No início da década de 90 a Alemanha parecia iniciar um movimento sustentado de diversificação em direcção, por um lado, à aeronáutica civil e militar, às actividades aeroespaciais, às telecomunicações por satélite, à electrónica da defesa e à aviónica, etc., e por outro, aos equipamentos e serviços informáticos e à microelectrónica. Este duplo processo de diversificação realizou-se a partir de três ou quatro conglomerados situados nos pontos fortes tradicionais da especialização internacional da Alemanha – exemplo da Daimler Benz e da Robert Bosch, com as suas bases no sector automóvel, ou da Siemens com base no equipamento eléctrico e electrónico. No final da década, grande parte desse movimento de diversificação estava já a ser invertido, assistindo-se à recentragem dos conglomerados que o haviam liderado em torno de um conjunto mais restrito de áreas.

Tendo em consideração a presença sectorial destes conglomerados e sabendo-se do peso das médias empresas, por exemplo na mecânica, no equipamento médico e no software , elaborou-se a figura 2, em que se ilustram as competências mundiais das empresas alemãs, divididas em duas zonas, respectivamente:

• um núcleo central – em que essas empresas detêm posições de liderança ou de grande destaque a nível mundial;

• uma periferia – em que essas empresas detêm posições claramente subalternas, embora possam em certos segmentos ser líderes.

Como se procurou ilustrar com a figura 1, no centro da estrutura industrial alemã encontra-se o sector produtor de máquinas e equipamentos para a indústria e, como núcleo central deste sector, dois subsectores:

• o das máquinas-ferramentas para trabalhar metal – cruciais para o fabrico de outras máquinas ou de material de transporte;

• o da aparelhagem de controlo e automação, destinado, quer às indústrias de processamento (químicas, siderúrgicas ou agroalimentares), quer à produção de bens de consumo de massa (automóveis, electrodomésticos, artigos de plástico ou têxteis).

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Imediatamente a seguir encontravam-se os sectores produtores de bens de consumo duradouro de gama média/alta em que a Alemanha se especializara – automóvel, electrodomésticos e equipamento audiovisual de grande consumo.

A década de 90 reforçou ou iniciou um conjunto de transformações nas economias desenvolvidas, que afectaram duradouramente o papel europeu da Alemanha. Entre estas transformações refiram-se as seguintes:

• Sectores com forte procura nas economias desenvolvidas, como a dos medicamentos, que até então funcionavam baseados na competência da química e na existência de “arquivos” de moléculas químicas, passaram a depender muito mais do avanço das ciências da vida, permitidos pela biologia molecular (vd. o surgimento da farmacologia molecular).

• O grau de penetração dos bens de consumo duradouro associados à motorização individual e ao equipamento do habitat deixaram de contar com uma demografia claramente favorável e passaram a depender da intensidade e rapidez da inovação dos produtos para acelerar a substituição;

• a procura das famílias deslocou-se dos bens de consumo duradouro para os serviços de entretenimento, e nos equipamentos deslocou-se dos que se baseavam na recepção passiva de som e imagens, para os que se baseiam na interactividade – vd. consolas de jogos – enquanto explodia uma procura de bens de consumo duradouro de uso individual – telemóveis, computadores portáteis, personal digital agendas , etc.

Se há economia que se reestruturou em torno destas tendências pesadas que continuarão a marcar as próximas décadas e é líder na maioria das actividades com maior potencial de crescimento é a economia dos EUA (completada em áreas específicas pela do Japão e Coreia do Sul ).

A figura 2 procura ilustrar as competências chave das empresas americanas. Nela se evidenciam os seguintes aspectos:

• um núcleo central em que se destacam as actividades associadas às tecnologias da informação, às tecnologias da saúde, às tecnologias da defesa, espaço e aeronáutica, com um lugar central ocupado pelo sector de software e pelas microengenharias/instrumentação; a este núcleo central pertence também a produção e distribuição de conteúdos audiovisuais (cinema, TV, música, jogos de computador etc.);

• uma periferia expressiva e com forte peso nas exportações, em que se destacam a química, a mecânica, a automação e controlo, o automóvel, o agroalimentar etc.

A comparação com a figura 1 é muito ilustrativa. Os EUA ocupam uma posição líder nas economias terciárias e baseadas no conhecimento, enquanto a Alemanha permanece fixada na era das economias industriais.

Este padrão condena a Alemanha, e com ela a maioria dos países da Europa continental que dela dependem para o seu crescimento (veja-se o caso de Portugal) a um crescimento lento e uma aposta sem recuo no mercado da China para alimentar um fluxo de exportações que apoiem os três processos que dominam a economia chinesa – industrialização, urbanização e motorização .

A Alemanha está particularmente bem posicionada para fornecer os equipamentos para a produção, transmissão e distribuição de electricidade; os equipamentos para as redes de telecomunicações fixas e móveis; os equipamentos para siderurgias, indústrias mecânicas e eléctricas; bem como para modernizar o sector automóvel da China.

No entanto a Alemanha não é um todo homogéneo. Tem algumas regiões com um padrão de especialização internacional que combinam de forma mais equilibrada os “pontos fortes” tradicionais com as novas actividades que estão no centro do crescimento dos EUA. O caso mais saliente é o da Baviera , que com o Baden-Württemberg e Hessen integra as regiões mais inovadoras a nível mundial.

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Informação Complementar

BAVIERA - A "OUTRA ALEMANHA"

A Baviera ocupa o 3º lugar como base industrial da Alemanha, depois do Baden-Württemberg e da Renânia / Palatinato – embora a indústria constitua o segundo sector mais relevante da economia da Baviera – com destaque para indústrias de forte intensidade tecnológica. O Estado Livre é o mais importante centro das indústrias da electrónica e telecomunicações, material eléctrico e aeroespacial na Alemanha.

Tecnologias da Informação / Electrónica – A região é a maior produtora de equipamento informático e de telecomunicações e um dos pólos de microelectrónica da Alemanha, funcionando a Siemens – cuja sede se localiza em Munique – e as suas empresas associadas, como a Infineon, como a principal empresa âncora neste sector. Na área da electrónica de consumo/audiovisual, e para além da Siemens, encontram-se outras empresas como a Grundig ou a Lowe Opta.

Equipamento Médico / Instrumentação – A Baviera é a segunda mais importante região alemã produtora neste sector, em que se destacam os aparelhos de medida e a instrumentação científica, incluindo neste caso os que se destinam a equipar satélites e sondas espaciais, e os equipamentos médicos de diagnóstico, nomeadamente na área da imagem, em que se destaca de novo a Siemens.

Aeronáutica / Espaço – A Baviera, em paralelo com o estado de Hamburgo, concentra a maior parte da actividade alemã no sector, hoje organizada na DASA (do grupo Daimler Benz), participante na empresa europeia EADS, sobressaindo a sua participação nos consórcios europeus Airbus, Eurofighter e Eurocopter e o fabrico de satélites e o desenvolvimento de plataformas espaciais e o fabrico de motores e componentes para motores de avião.

Mecânica e Automação – Menos importante que o Baden-Württemberg na mecânica de seriados, e nomeadamente nas máquinas-ferramentas para trabalhar metal, a Baviera tem a sua especialização nas máquinas para trabalhar plásticos e na automação industrial, que constitui um dos pólos de competência mais fortes da Siemens.

Automóvel / Material de Transporte – Em que se destaca a produção de automóveis de gama média e alta em torno de duas marcas – BMW e Audi, esta do grupo Volkswagen; o fabrico de camiões e motores marítimos em torno da MAN e o fabrico de veículos militares em torno da Krauss Maffei; na região está localizado um conjunto de grandes fabricantes de componentes para a indústria automóvel, destacando-se a produção de material eléctrico e electrónico.

Material Eléctrico / Equipamento Ferroviário – A região é a maior produtora alemã neste sector, em que se destaca a produção de todo o tipo de equipamento eléctrico pesado e de uso industrial e urbano bem como de electrodomésticos em torno da Siemens; e de material ferroviário em torno da Siemens e da Krauss Maffei.

A Baviera apresenta ainda duas áreas emergentes de especial significado:

Biotecnologias – A Baviera participa activamente na crescente especialização alemã nas tecnologias-plataforma para a engenharia genética, engenharia das proteínas, genómica, etc., ou seja, nas tecnologias, consumíveis e equipamentos, que constituem as ferramentas necessárias às actividades de investigação e desenvolvimento que permitem descobrir e fabricar novos produtos para a saúde. Como exemplos de empresas na área da biotecnologia destacam-se a GPC Biotech Ag, MorphoSys AG, Ingenium e a Micromet.

Serviços intensivos em tecnologia – Com destaque para o software , em que só em Munique estão sediadas um terço das principais empresas mundiais de software , os serviços informáticos e os serviços baseados na Internet, em que, para além da Siemens, estão presentes multinacionais do sector como a Microsoft e a Oracle.

Fonte: “Informação Internacional 2003” Vol. I – Edição do Departamento de Prospectiva e Planeamento (DPP), consultável em http://www.dpp.pt

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* Félix Ribeiro

Licenciado em Economia pelo Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras. Subdirector Geral do Departamento de Planeamento e Prospectiva.

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Dados adicionais
Gráficos / Tabelas / Imagens / Infografia / Mapas
(clique nos links disponíveis)

Link em nova janela As competências mundiais alemãs (fig.1)

Link em nova janela As competências mundiais americanas (fig.2)

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