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Janus 2004



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Cultura: internacionalização no fim do século

Isabel Braga *

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A década de 90 marca o fim da situação de isolamento cultural de Portugal. Foi um movimento progressivo, especialmente vivo no quadro europeu, iniciado em 1991 com a Europália dedicada à cultura portuguesa na Bélgica, que Lisboa 94 reforçou e que se tornou um facto indiscutível em 1997, ano em que Portugal foi o país tema da Feira do Livro de Frankfurt e se prepara para receber a última grande exposição mundial do século, a Expo 98.

"As portas estão abertas finalmente para nós, e não apenas na Europa, esse interesse começou agora a surgir nos Estados Unidos", sublinhava em 1997 a directora do Gabinete de Relações Culturais Internacionais (GRI) do Ministério da Cultura, Patrícia Salvação Barreto. Como exemplo, citava o convite a Portugal para ser o protagonista do festival de abertura, em Outubro, do New Jersey Performing Arts Center (NJPAC), um dos maiores e mais luxuosos do mundo, concorrente directo das grandes salas de espectáculo de Nova Iorque, situado a 12 minutos de distância, por metro, do centro de Manhattan, e rampa de lançamento para o resto dos Estados Unidos.

O Instituto Camões é o organismo do Estado formalmente encarregado da promoção externa da cultura e língua portuguesas no estrangeiro. O seu presidente, João Paulo Monteiro, tem a mesma opinião de Patrícia Salvação Barreto relativamente à internacionalização da cultura portuguesa. E acrescenta: "Há uma área que, quanto a mim, se destacou neste movimento geral de abertura ao exterior, que é a literatura. A literatura tem crescido por si mesma. Hoje, Fernando Pessoa é um autor internacional".

Com um orçamento de três milhões de contos em 1997, o Instituto Camões — dependente funcionalmente da Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação — gasta metade dessa soma com os leitorados que tem espalhados pelo mundo. A outra metade é empregue em acções promovidas pelos conselheiros culturais das embaixadas. No primeiro semestre de 1997, o Instituto Camões financiou cerca de 100 iniciativas. Os leitores de português — que, na Europa, são cerca de 140 — privilegiam actividades relacionadas com a língua e a literatura; as embaixadas promovem "um pouco de tudo".

Uma das iniciativas mais importantes do Instituto Camões realizou-se em Itália: foi a exposição "O Modernismo Português — 1910-1940 — Arte e Sociedade em Portugal no Tempo de Fernando Pessoa", mostrando 85 obras de escultura e pintura, que esteve patente no Palácio Medici-Ricciardi, em Roma, em Junho. Com os seus cerca de 200 mil contos de orçamento anual, o GRI do Ministério da Cultura paga bolsas de estudo e também se dedica a promover a cultura portuguesa no exterior mas, sublinha a sua directora, "a nossa acção é residual se nos compararmos com o Instituto Camões". O GRI promoveu, em 1997, 18 acções na Europa — na maioria apoios a digressões de coreógrafos independentes — participou em mais 58 organizadas pelo Ministério da Cultura e em 12 da responsabilidade da União Europeia. Números que indicam que essa acção não é tão residual como isso. A participação portuguesa na VII Bienal de Veneza, em Junho — onde Portugal se fez representar pela obra do pintor Julião Sarmento, exposta em pavilhão próprio no Palácio Vendramini — foi, a seguir à Feira do Livro de Frankfurt, o acontecimento cultural português com mais projecção na Europa em 1997. Esta representação foi organizada pelo Instituto de Arte Contemporânea do Ministério da Cultura, que não divulgou os custos da operação; certo é que Sarmento foi uma das presenças mais consistentes no importantíssimo certame, segundo a crítica da especialidade. A Itália, a Alemanha, a França e a Inglaterra são os países mais receptivos à cultura portuguesa, segundo João Paulo Monteiro.

Patrícia Salvação Barreto não consegue fazer esse tipo de distinção: "Agora as portas abrem-se-nos muito facilmente, em todo o lado". As áreas da cultura portuguesa que, segundo esta responsável, "se vendem melhor" são o património histórico e a dança contemporânea. "É facílimo exportar dança portuguesa, tem sempre um sucesso assinalável e mais do que paga os investimentos que fazemos nas itinerâncias". Curiosamente, os novos coreógrafos portugueses "têm mais facilidade em arranjar espectáculos no estrangeiro do que em Portugal, incluindo na Europa do Leste, onde a oferta é grande", acrescenta. De venda mais difícil são as orquestras clássicas, talvez "devido à grande concorrência internacional. Apenas a Orquestra Gulbenkian tem algum peso lá fora. A Orquestra Metropolitana de Lisboa também faz algumas digressões e é tudo", afirma.

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A Europa em Portugal

No sentido inverso, avaliando as actividades culturais europeias de visita a Portugal, é difícil hierarquizar os acontecimentos. A oferta cultural foi abundante, traduziu-se sobretudo em espectáculos e exposições, e teve as mais variadas proveniências. Da Alemanha e da Inglaterra vieram dois eventos de relevo, que tiveram como palco o Centro Cultural de Belém (CCB): a homenagem prestada ao dramaturgo Heiner Müller, através de duas encenações de Brecht/Müller pelo Berliner Ensemble, e a exposição originária dos Estados Unidos e Grã-Bretanha dedicada à Arte Pop dos anos 60. Da Itália, vieram dois grandes espectáculos, a ópera "II Trittico" de Puccini, numa encenação do italiano Stefano Vizioli, no Teatro de São Carlos, e a peça "Os Gigantes da Montanha", de Luigi Pirandello, encenada por Giorgio Barberio Corsetti no Teatro de S. João, no Porto. Sem esquecer o ciclo dedicado à literatura holandesa contemporânea, promovido pelo Serviço ACARTE da Gulbenkian ou o grande colóquio anual desta fundação dedicado ao tema "Europa Social: os Desafios do Século XXI".

A oferta cultural externa centralizou-se principalmente em Lisboa, mas há indícios de um novo protagonismo do Porto, sobretudo centrado na Fundação de Serralves. Os lisboetas não estranham a abundância, sinal de que, pelo menos neste campo, a capital de Portugal está a ficar parecida com as outras do centro da Europa. O resto do país continua muito carenciado, o que se deve, em grande parte, à falta de recintos culturais.

 

Informação Complementar

País-tema em Frankfurt

Portugal foi país-tema da 49ª Feira do Livro de Frankfurt, que se realizou entre 15 e 20 de Outubro. A participação portuguesa no mais importante certame internacional na área do livro, onde acorrem milhares de editores e agentes literários de todo o mundo, constituiu o acontecimento de maior relevo na política cultural externa do país em 1997. O significado deste evento pode traduzir-se em números e factos: a empresa criada para promover a participação portuguesa, Portugal Frankfurt 97, S.A., teve um orçamento superior a um milhão de contos, quase totalmente provenientes do Estado; Portugal ocupou um espaço privilegiado, na praça central da Feira, com um pavilhão próprio construído de raiz, com 970 metros quadrados, três vezes maior do que aquela de que a representação nacional dispôs em 1996; o número de editoras portuguesas com um stand na Feira mais do que duplicou — 102 em 1997 contra 44 em 96.

A Sociedade Portugal-Frankfurt 97 foi uma iniciativa do Estado em que participaram os Ministérios da Cultura e da Economia, Parque Expo-98 S.A., Comissão dos Descobrimentos, ICEP (Investimentos, Comércio e Turismo de Portugal) e APEL (Associação Portuguesa de Editores e Livreiros). Parte do seu orçamento foi gasta numa operação de vários meses destinada a dar visibilidade local à cultura portuguesa: um festival que mostrou, na cidade de Frankfurt e arredores, aquilo que de mais representativo se faz em Portugal no domínio das artes plásticas, teatro, dança, música e cinema.

O resto da verba destinou-se à feira do livro propriamente dita, em que Portugal esteve representado por 37 escritores distribuídos pelas áreas da ficção — Agustina Bessa Luís, Almeida Faria, Clara Pinto Correia, Helena Marques, João de Melo, Cardoso Pires, Riço Direitinho, Saramago, Lídia Jorge, Luísa Costa Gomes, Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa, Mário de Carvalho, Mário Cláudio, Paulo Castilho, Teolinda Gersão e Urbano Tavares Rodrigues — do ensaio — Mário Soares, Eduardo Lourenço, Eduardo Prado Coelho, Fernando Rosas, João Bénard da Costa, José Mattoso e Teresa Rita Lopes — da poesia — António Osório, Fernando Pinto do Amaral, Fiama Hasse Pais Brandão, Gastão Cruz, Luís Filipe Castro Mendes, Manuel Alegre, Pedro Tamen, Vasco Graça Moura e Yvette Centeno — e da literatura infanto-juvenil — Alice Vieira, António Torrado, Manuel António Pina e Maria Alberta Menéres. A representação de Portugal integrou ainda escritores estrangeiros que escrevem em português: o italiano António Tabucchi, o angolano José Eduardo Agualusa, o moçambicano Mia Couto, o cabo-verdiano Germano de Almeida e o brasileiro João Ubaldo Ribeiro. A selecção foi da responsabilidade do comissário para a literatura da representação portuguesa em Frankfurt, Nuno Júdice.

 

A Expo 98 e Frankfurt

"Portugal – Caminhos no Mundo" foi o lema de Portugal em Frankfurt. Se se interpretar o tema da Expo 98, "Oceanos, um Património para o Futuro", no sentido metafórico, em que os mares significam a livre circulação de pessoas e ideias, a ligação entre os dois eventos fica clara. Mas a ligação não é apenas simbólica: a realização da Expo em 98 foi um argumento decisivo para a escolha de Portugal como país-tema em 1997. O presidente da Sociedade Portugal-Frankfurt e o comissário executivo e administrador do Parque Expo são, aliás, uma e mesma pessoa, António Mega Ferreira.

Da programação do festival realizado para publicitar Portugal em Frankfurt há que destacar a dedicada ao cinema e à dança. O programa de cinema passou, entre Junho e Novembro, no Deutsches Filmmuseum de Frankfurt, o cinema português dos anos 90 [de realizadores como Teresa Villaverde, Pedro Costa, João Botelho, Joaquim Leitão e Joaquim Sapinho], os clássicos [Jorge Brum do Canto, António Lopes Ribeiro, Perdigão Queiroga, Paulo Rocha, Fernando Lopes e outros], os três filmes que Wim Wenders rodou em Lisboa ["O Estado das Coisas", "Até ao Fim do Mundo" e "Lisbon Story"] e uma retrospectiva dedicada a Manoel de Oliveira. A programação da dança, ao longo do mês de Outubro, apresentou, além da Companhia Paulo Ribeiro e da Companhia Nacional de Bailado, nomes já consagrados da dança independente, como João Fiadeiro, Vera Mantero e Clara Andermatt, e os mais jovens, como Paulo Henrique, Sílvia Real, Miguel Pereira ou Filipa Francisco.

Nas outras áreas, Pessoa foi um nome quase omnipresente. Inspiradas nele, realizaram-se exposições de artes plásticas — a "Arte Portuguesa no Tempo de Fernando Pessoa", patente no Schrin Kunsthalle de 19 de Setembro a 30 de Novembro; ou "As Lisboas de Pessoa", mostrada até fins de Outubro no Bockenheimer Depot. E encenaram-se peças de teatro da sua autoria— "O Banqueiro Anarquista" — ou inspiradas nele — "Fausto" —, traduzidas para alemão. Mas o autor da "Mensagem" marcou presença ainda de uma outra maneira, ao ser um dos autores portugueses mais negociados nesta grande feira de compra e venda de direitos.

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* Isabel Braga

Jornalista do PÚBLICO.

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