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Os desafios da sociedade de informação

José Amado da Silva *

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O turbilhão de mudanças em que a Sociedade actual está mergulhada arrasta consigo novas terminologias portadoras de equívocos, que urge eliminar. A Sociedade de Informação é, por certo, uma expressão desse tipo, sendo evidente que ela é usada em sentidos muito variados que importa clarificar, à partida.

Com frequência se verifica — e essa é, talvez, a posição maioritária em Portugal — que a Sociedade de Informação é assimilada a um conjunto de actividades novas, ou em transformação, todas elas ligadas à informação, quer a sua produção e difusão, quer todas as infra-estruturas e equipamentos a elas associadas.

Esta visão leva mesmo alguns a referir o "Sector" da Sociedade da Informação. Sem embargo de se reconhecer que sem o desenvolvimento desse "Sector" não há Sociedade de Informação, esta, de facto, deve ser vista, globalmente, como uma nova forma de organização social, proporcionada pelas novas características da informação — cara de produzir, mas de reprodução muito barata, graças ao enorme desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação. Esta característica repassa toda a sociedade, reclamando novos modos de expressão da cidadania, da relação interpessoal e interinstitucional, da expressão cultural (ver informação complementar) e, naturalmente, da organização económica e do governo.

É um erro crasso centrar o problema da economia na Sociedade de Informação no Comércio Electrónico e, com maior generalidade, no Negócio Electrónico. Efectivamente, toda a actividade económica tem como factor essencial a informação, mesmo que em diferentes níveis de intensidade. Estando disponíveis novas e mais "baratas" formas de produção, aquisição, tratamento e difusão da informação, todos os sectores produtivos (e até os consumidores, enquanto a informação se assume, em certas condições, como "um produto final de consumo") se têm de defrontar com esta nova oferta que os leva a reconsiderar o reequacionamento das suas funções de produção e de vendas, sugerindo-lhes (ou impondo-lhes mesmo, por questões de sobrevivência no palco competitivo) uma transformação tecnológica e organizacional.

Em consequência, as estruturas empresariais são abaladas não só pelas novas possibilidades de organização funcional interna, mas também pela maior abertura ao exterior, seja do lado dos fornecedores, seja do lado dos clientes, potenciando-se, assim, a diluição dos laços típicos das comunidades empresariais clássicas, cuja expressão paradigmática é a cultura da empresa. Esta assenta numa lógica de comunidade que só se preserva por laços de fidelidade que estão cada vez mais em causa na Sociedade de Informação. É que, curiosamente, no momento em que a organização empresarial mais precisa de Capital Humano, menor fidelidade encontra por parte dele.

As pessoas que têm condições de fidelidade são as que menos interessa manter por, alegadamente, não serem portadoras de saber e de capacidade inovadora, criando-se condições para o agravamento das desigualdades entre as pessoas e consequente corrosão da coesão social.

A sociedade portuguesa fará bem em estar atenta a alguns ensinamentos dos efeitos perversos do desenvolvimento da Sociedade de Informação no país que nela mais avançou — os Estados Unidos da América — designadamente o agravamento do fosso entre os mais ricos e os mais pobres.

Em editorial recente (11.09.2000) a insuspeita revista "Business Week" chamava a atenção para a discussão crescente (no meio da enorme prosperidade proporcionada por esta "nova economia" em que assenta a Sociedade de Informação) sobre onde começa a sociedade civil e termina a economia de mercado. O triunfo do mercado sobre o Estado e a Nova Economia "hightech" estão a mudar as fronteiras do equilíbrio entre o trabalho e a família, o local de trabalho e o lar, o que é da empresa e o que é privado (aqui, em particular, quem é dono do "saber partilhado": a empresa ou o empregado da empresa?) Daí levantarem-se problemas novos no âmbito da definição da propriedade, da segurança, da equidade e, sobretudo, da responsabilidade.

No que toca à Equidade, a "Business Week" afirma que as pessoas se sentem mal pagas, especialmente em comparação com os gestores de topo, que, hoje em dia, ganham 500 vezes mais que o salário médio dos seus empregados. É necessário uma melhor distribuição do rendimento gerado nesta sociedade, sendo estranho que, num mundo dominado pelo trabalho de grupo, se continue a persistir na atribuição dos louros do vencedor, em exclusivo, aos gestores do grupo. Há que, de novo, os chamar à sua perdida responsabilidade social.

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Se isto é num País que tira todos os benefícios económicos da Sociedade de Informação, que dizer de Portugal que tem elevadíssimos custos da sua difusão, quanto mais não seja porque importa quase tudo o que é equipamento e boa parte das infra-estruturas e dos suportes de funcionamento desta nova sociedade? Se a economia é para o homem, e se o novo ambiente não pode, nem deve, ser hostil a nenhuma pessoa, um claro passo para eliminar o enorme fosso entre as pessoas está em dar-lhes capacidades de ter acesso a esta nova Sociedade. Se saber "ler, escrever e contar" foi sempre (ou quase sempre?) o conjunto de conhecimentos mínimos para um exercício digno de cidadania e de actividade profissional, louve-se a iniciativa de criação do Diploma de Competências Básicas em Tecnologias de Informação, que visa potencializar o acesso à Sociedade de Informação.

Basicamente pretende-se que, por meio de qualquer suporte — computador, telefonia, TV digital — uma pessoa possa escrever um texto, imprimi-lo, ler e emitir mensagens em correio electrónico, bem como procurar informação na Internet. Se o plano se concretizar com eficácia, estarão criadas as condições para o "ler e escrever" no novo ambiente comunicacional, mas falta ainda estimular e procurar soluções para o "contar" — vitais num país em que os cruciais conhecimentos de matemática se afundam, crescentemente — para que a nova cidadania esteja assegurada. Mas, depois, há que garantir que essa funcionalidade se mantém. Não esqueçamos que, na "velha sociedade", são muitos os analfabetos funcionais. É mister evitar que tal não volte a acontecer na "nova". Para isso é preciso dar espaço ao exercício das funcionalidades, promovendo o acesso fácil e imediato aos suportes necessários a esse exercício, o que impõe uma grande capacidade de gestão para evitar desperdícios.

 

Informação complementar

A Sociedade de Informação e a Língua Portuguesa

Uma das características essenciais da Sociedade de Informação é a exigência de códigos comuns entre o emissor e o receptor.

Esses códigos existiram desde sempre, sendo os mais evidentes as línguas faladas ou escritas, hoje em número de 6 a 7 mil, com a grande maioria delas ameaçadas de desaparecimento em poucos anos. A mundialização em curso, com a multiplicação e extensão das vizinhanças e consequente necessidade de códigos comuns a conjuntos crescentes de pessoas reclama, por uma questão de pragmatismo, uma língua comum, estando o inglês a emergir cada vez mais e a assumir esse papel. Este facto, se facilita a comunicação entre as pessoas, contém duas ameaças que não podem ser ignoradas: uma, com maior expressão nos curto e médio prazos, configura mais um foco de agravamento das desigualdades interpessoais e interregionais, na medida em que os conhecedores da língua inglesa e sobretudo aqueles que a possuem como língua nativa ficam em posição privilegiada; uma outra, de mais longo prazo, evidencia a dominância cultural da língua comum com a decorrente possibilidade de afogamento das outras culturas, se não mesmo das outras línguas. Neste enquadramento, vale a pena perguntarmo-nos o que poderá acontecer à língua portuguesa e que passos a dar para a sua preservação e afirmação.

Um estudo coordenado em Abril de 1999, divulgado e adaptado pela Digital Fórum, revelava que 56% dos utilizadores da Internet viviam num país de expressão inglesa, uma queda assinalável relativamente a Março de 1997 (79%). Esta queda, que se acentuará, poderá, no entanto, não ser acompanhada, no mesmo ritmo, pelo peso da utilização da língua inglesa na Internet, já que, por exemplo, em Abril de 1999, mais de metade dos utilizadores europeus da Internet utilizavam o inglês como língua de consulta.

O mesmo estudo revelava que organizando os 197 milhões de utilizadores da Internet, na altura, por grupos linguísticos, 34,9% utilizavam línguas europeias (com excepção do inglês), sendo a sua distribuição a apresentada no Quadro X da infografia.

O Quadro sobre Utilizadores por línguas europeias revela bem quão os utilizadores da Internet com língua natural europeia usam, por exclusão de partes, o inglês como língua privilegiada de comunicação e, sobretudo, como os nativos de língua espanhola, em claro contraste com todas os outros, designadamente os de língua portuguesa, são mais resistentes à utilização do inglês, promovendo bem mais a difusão da sua língua.

Se a expressão da língua portuguesa na Internet nessa altura não era relevante, é óbvio que potencialmente há um enorme espaço de crescimento que contraria as duas ameaças referidas. Contudo há que reconhecer que o centro nevrálgico do sucesso mundial da língua portuguesa está no Brasil, onde a utilização tem crescido muito, estimando-se já em mais de 6 milhões os seus utilizadores (eram pouco mais de 3 milhões no fim do 1° semestre de 1999), um crescimento, aliás, bem emulado em Portugal (porventura em resultado da introdução do acesso livre à Internet), já que dados recentes indicam que mais de 1,5 milhões de portugueses já usam a Internet, quando em meados de 1999 não atingiam 1 milhão.

Como é evidente, a utilização do Português na Internet facilitará o acesso dos portugueses, muitos dos quais não têm conhecimentos de inglês e, em estudos recentes, reclamam, como um dos principais meios facilitadores do acesso à Rede, a produção de conteúdos em português. E esse é um desafio que tem que ser assumido em Portugal e no Brasil, se não mesmo em consonância com os países latino-americanos, como meio de preservação e afirmação cultural e garantia do não agravamento das diferenças entre os portugueses.

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* José Amado da Silva

Licenciado em Engenharia Mecânica pelo IST e Doutorado em Economia pela UniversidadeCatólica Portuguesa. Docente na UAL, onde dirige o Departamento de Economia eo Centro de Estudos Económico-Empresariais, e no Centro Regional do Porto daUniversidade Católica Portuguesa.

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