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As tecnologias da informação e comunicação nas escolas

Lurdes Camacho *

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A utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação nas escolas, neste início de século e de milénio está, ainda, longe de atingir um patamar de banalização como instrumentos de trabalho e comunicação ao serviço de alunos e professores que consiga tirar partido de todas as suas potencialidades. Do projecto Minerva ao Forja, ao Internet na Escola, ao Nónio – Século XXI, diversas tentativas, mais ou menos meritórias ou bem conseguidas, foram feitas no sentido de integrar os computadores na vida das escolas, não como simples "caixas de jogos" mas como poderosas ferramentas de trabalho e comunicação.

A par da incorporação das TIC na escola (dificilmente na sala de aula), tentou-se dotar os professores das competências necessárias de modo a que, paralelamente à utilização do computador, recursos como os CD-ROMs, a Internet e o correio electrónico fossem integrados como meios de ensino e de aprendizagem importantes.

Mas, também neste domínio a realidade está ainda muito aquém das expectativas e a existência de um único computador multimédia com acesso à Internet na Mediateca, disputado por milhares de alunos que não lhe conseguem aceder, numa escola onde a carência de formação de professores para o uso destas novas tecnologias predomina é, ainda hoje, infelizmente, a situação reinante no universo escolar em Portugal.

Ainda que meritórias, quase todas as tentativas de remar contra a maré foram parcialmente infrutíferas, na medida em que a generalização daquilo por que pugnavam foi limitada, a familiarização com os novos media e com as tecnologias a eles associadas foi apenas em parte conseguida e a necessária formação alargada de professores não foi efectuada. Diversas razões explicam este facto mas não o justificam. Os recursos atribuídos a projectos desta índole são sempre escassos, os horários pesados dos professores dificilmente se compadecem com a necessidade de lhe serem adicionadas mais algumas horas extra para formação, a curiosidade e motivação iniciais dos alunos rapidamente esmorecem face às limitações que o número reduzido de equipamentos impõe.

Apesar da existência de projectos muito interessantes e inovadores, com frequência a utilização dos equipamentos traduz-se, pelo menos com visibilidade para o exterior, na criação de páginas das escolas na Internet. A par do papel e do incentivo dos programas "Internet na Escola" e "Nónio - Século XXI", tem faltado às acções do Ministério da Ciência e Tecnologia e do Ministério da Educação uma terceira vertente que completaria as anteriores de forma fundamental: uma abordagem cultural, o desenvolvimento de conteúdos de carácter essencialmente cultural e de qualidade. O desenvolvimento destes conteúdos irá facilitar a integração das TIC na escola, no dia-a-dia dos alunos, já que terão de ser fruto de projectos estruturados (e estruturantes), exigindo um trabalho mais demorado e apurado que não se coaduna com uma utilização pontual e esporádica. De acordo com o inquérito "As TIC nas práticas educativas" elaborado em 1997 e 1998 pelo Ministério da Educação e ao qual responderam 64% das escolas do 2° e 3° ciclos e do ensino secundário, o que hoje sucede é que a utilização dos computadores está vocacionada, essencialmente, para trabalhos no âmbito das disciplinas curriculares, sendo as actividades educativas mais valorizadas as que se prendem com a produção e edição de informação – frequentemente para a elaboração de trabalhos curriculares.

A acção do Programa Internet na Escola constituiu um passo fundamental para Portugal na divulgação das TIC na escola e, pelo seu efeito multiplicador, junto da sociedade em geral. Mas é necessário, agora, ir mais além, pois o século XXI e o progresso acelerado que temos vindo a sentir não se compadecem com os que ficam para trás. O "analfabetismo digital" é uma verdadeira ameaça que urge combater, não apenas em termos de domínio técnico e funcional dos equipamentos mas, sobretudo, no que diz respeito a uma utilização original e criativa destes instrumentos de trabalho tão poderosos. É necessário multiplicar o número de computadores nas escolas, dotar os alunos das capacidades necessárias ao seu domínio, incentivar a criação de conteúdos originais e criativos, desenvolver os contactos entre escolas a nível nacional e internacional. Se o número de alunos que fora do ambiente escolar têm acesso a um computador tem vindo a aumentar, o número daqueles que dependem exclusivamente da escola para uma iniciação e progressivo domínio dos equipamentos é ainda demasiado significativo para que dele nos possamos esquecer. A escola tem o dever de munir os jovens dos instrumentos e dos conhecimentos indispensáveis aos desafios que o futuro lhes começa já a apresentar.

Afirmam alguns que as despesas inerentes à implementação destes programas são imensas e incompatíveis com um país como Portugal; mas, na reduzida dimensão e em algumas especificidades deste país, podem residir os factores de sucesso de projectos desta natureza. Por muito elevados que sejam os recursos financeiros necessários, os efeitos de um programa bem sucedido e as mais-valias obtidas para o processo de ensino e aprendizagem justificam plenamente um investimento que se reflectirá na educação e na preparação intelectual das próximas gerações. Neste contexto o Estado tem obrigações que não pode esquecer na preparação do futuro, formando e educando, hoje, os jovens do século XXI. E este é um investimento a que os responsáveis políticos não se podem furtar, devendo assumir a sua responsabilidade nesta tarefa, compreendendo que investimentos considerados avultados hoje (e que, afinal, nada são quando comparados com os milhões a gastar com o Europeu de Futebol), podem transformar-se numa mais-valia preciosa que fará a diferença no futuro.

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A importância destes investimentos nas áreas da educação e da formação é já um dado adquirido em diversos países, nomeadamente nos EUA, onde o sector privado desempenha, também, um papel determinante nesta preparação para o futuro. Portugal é um país de pequenas dimensões, cujo universo escolar corresponde apenas ao total de habitantes de uma pequena cidade. Se as empresas produtoras de equipamentos, nomeadamente computadores, compreenderem que, cedendo gratuitamente às escolas o equipamento de que estas necessitam (em qualidade e quantidade), o investimento efectuado será recuperado a curto/médio prazo, já que os alunos quererão ter em casa equipamento idêntico ao que possuem na escola (ou superior), aumentando, desta forma, o número de potenciais clientes (para além de que, através das crianças, muitos adultos se iniciarão na utilização destas tecnologias). Quando as empresas compreenderem que com esta atitude estarão a semear para colher, então talvez decidam abandonar um certo "capitalismo saloio" que as caracteriza e investir nas verdadeiras raízes da educação.

A aposta no mercado da educação é já uma realidade com um peso extraordinário em alguns países como é o caso dos EUA. Aqui o investimento, público e privado, de 600 biliões de dólares é francamente revelador do volume que os negócios em torno da educação e da formação assumem, espelhando uma significativa preocupação e interesse em relação a oportunidades de negócio em plena expansão. Áreas como o desenvolvimento de software educativo, a Internet, as comunicações por satélite, os sistemas de tutoria e a formação absorvem quantias elevadíssimas mas também produzem lucros que justificam os investimentos realizados.

Muitas das iniciativas referidas, independentemente do seu maior ou menor sucesso, pecaram ainda pela ausência de um aspecto fundamental: ensinar a "ver" e a "ler" as imagens para além da primeira abordagem, passiva, a do mero olhar. Qualquer imagem, por mais simples que seja, encerra em si informação que uma observação superficial deixa escapar; num CD-ROM ou na Internet as imagens devem ser lidas e "desmontadas", descodificada a mensagem que as originou e analisada em todas as suas vertentes para uma compreensão mais completa e profunda dessas imagens na sua globalidade. Não basta olhar, é necessário VER. Ver no sentido de compreender o que está por detrás da imagem, as razões da sua existência, os objectivos da sua criação.

A visão do jornalista, a perspectiva do produtor, a opinião do realizador, a intenção do político, o ponto de vista do homem da rua poderão originar formas diversas de descrever o mesmo acontecimento, tornado único e diferente por aquele que o relata. Interpretações de uma mesma realidade, ou realidades diversas de um universo comum, as imagens têm que ser analisadas e comparadas, descodificadas e entendidas, enquanto veículo de algo mais profundo que a passividade do olhar não capta mas que a acção de VER permite fixar.

Neste contexto novamente a sintonia entre a situação na escola e na sociedade envolvente tem sido perfeita. A ausência de uma educação para a imagem serve, frequentemente, objectivos bem determinados, já que uma população preparada para ver e ler a imagem é mais crítica e exigente, contestando as políticas de olhar vigentes e clamando por uma verdadeira política de “ver”. Assim aprender e ensinar a “ver” torna-se premente e se esta constatação representa um desafio para todos nós, na escola ela assume contornos de urgência particularmente importantes. Tão urgente quanto a multiplicação do número de computadores nas escolas, a disseminação de práticas criativas, a apropriação real das TIC pêlos alunos. Só assim os desafios poderão ser vencidos e a aposta na educação poderá ser ganha, dotando os jovens dos conhecimentos e dos instrumentos de trabalho e comunicação do futuro.

 

Informação complementar

Os instrumentos governamentais

Os desafios da sociedade da informação têm vindo a provocar diversos sobressaltos em áreas diversas, nomeadamente no domínio da Educação. Numa tentativa de responder a estes desafios foram criados em Portugal, nos últimos anos, dois grandes instrumentos para a implantação e desenvolvimento das Tecnologias da Informação e Comunicação nos Ensinos Básico e Secundário.

O Programa "Internet na Escola", gerido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, é o responsável pela instalação, em cada escola, de um computador multimédia com ligação à Internet. Com o apoio deste programa todas as escolas do 2° e 3° ciclos e do Ensino Secundário (do 5° ao 12° anos), num total de cerca de 1664 em 1997/98, estão já cobertas, atingindo cerca de 1111899 alunos. Até 2001 esta situação estender-se-á a todas as escolas do 1° ciclo (cerca de 8 883), estando o processo já em curso em cerca de 600.

O Programa instala em cada escola um computador multimédia com ligação à Internet, sendo o acesso garantido por meio de 15 PoPs implementados pela FCCN, (Fundação para a Computação Científica Nacional) e sedeados em instalações do ensino superior ou laboratórios de investigação do estado. Todas as escolas desta rede, a RCTS (Rede Ciência Tecnologia e Sociedade) têm acesso RDIS a 64Kbps, sem encargos para a escola. O programa proporciona, ainda, apoio técnico sempre que necessário e a instalação do hardware é acompanhada pela disponibilização de um conjunto variado de software que garante à escola o acesso, gratuito, a ferramentas de trabalho de grande valor educativo.

O Programa "Nónio - Século XXI", da responsabilidade do Ministério da Educação, tem vindo a conceder, desde 1996, apoios que permitiram criar uma rede de projectos de escola que atingiu um total de 431 projectos de escola em 1998. Estes apoios são concedidos através de concursos nacionais que se realizam anualmente. O Programa tem vindo, igualmente, a desempenhar um papel determinante no apoio ao desenvolvimento de projectos educativos e na criação de centros de competência para acompanhamento dos projectos de escola.

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* Lurdes Camacho

Licenciada em História pela Universidade de Lisboa. Mestre em Comunicação Educacional pela Universidade Aberta. Doutoranda em Ciências da Comunicação. Chefe de Divisão; coordenadora da área de Educação e Formação no ICAM.

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Dados adicionais
Gráficos / Tabelas / Imagens / Infografia / Mapas
(clique nos links disponíveis)

Link em nova janela Distribuição por escola do "ratio" de alunos por computador

Link em nova janela Actividades a que se associam os projectos TIC

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