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Janus 2003



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Indicadores económicos de Portugal e Espanha

Francisco Mendes *

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2001 marcou o início do abrandamento da actividade económica para ambos os países. Portugal regista taxas de crescimento inferiores às de Espanha, (contrariamente ao verificado entre 1981-97) em particular em 2002, ano em que o ritmo de expansão do PIB será inferior ao da média da UE . A quebra do crescimento no nosso país deveu-se à forte desaceleração da procura interna, agravada pelo fraco desempenho na exportação de bens e serviços. Esta desaceleração revela também um processo de reajustamento após a rápida expansão do período 1997-2000, que conduziu a um forte endividamento do sector privado.

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Portugal e o seu grande vizinho ibérico – a Espanha –, depois de atravessarem um período de estabilização e consolidação democráticas a partir de meados da década de 1970, fixaram idênticas opções estratégicas no sentido da integração europeia, vindo a aderir às Comunidades Europeias em 1985. Posteriormente, prosseguiram o esforço de aproximação ao centro da Europa num contexto de progressiva liberalização dos mercados mundiais, tendo ambos concluído com sucesso o cumprimento dos vários critérios de convergência que os levou a integrar o núcleo inicial dos países fundadores da UEM, a partir de 1 de Janeiro de 1999.

É inegável a profunda transformação político-económica e cultural operada nos dois países nas últimas duas décadas, subsistindo, porém, importantes diferenças entre ambos (com clara assimetria na dimensão absoluta dos respectivos mercados internos) e também entre eles e a média da União Europeia (UE).

Analisando a evolução do PIB, verifica-se que ambos os países iniciaram um claro abrandamento da actividade económica em 2001, a continuar em 2002. Todavia, e ao invés do ocorrido entre 1981-97, Portugal revela taxas de crescimento inferiores às de Espanha, evidenciando desaceleração mais forte do PIB, em especial em 2002, ano em que o ritmo de expansão do PIB deverá ser inferior ao da média da UE.

A análise do comportamento das várias componentes da despesa interna indicia que a quebra do crescimento em Portugal se ficou a dever à forte desaceleração da procura interna (avultando as reduções do investimento privado em 2001 e, em especial, no projectado para 2002), agravada pelo fraco desempenho das exportações de bens e serviços, consequente do enquadramento externo desfavorável. A desaceleração da procura interna portuguesa reflecte um processo de reajustamento após a rápida expansão ocorrida no período de 1997-2000, que levou a forte endividamento do sector privado (empresas e famílias), ocasionando um elevadíssimo aumento da dívida externa líquida da banca portuguesa – subiu de 1,7 % do PIB, no final de 1998, para cerca de 29% do PIB, no final de 2001. Não admira, assim, que o PIB per capita de Portugal, que tivera rápida progressão até 1997 (74,4 % da média da UE), tenha permanecido depois praticamente estagnado ao nível de 73 %, atrasando-se relativamente à posição espanhola (83,6 % em 2002). A este ritmo de crescimento, e supondo que os outros países membros estagnavam, Portugal necessitaria de mais de 40 anos para atingir a média da UE.

A trajectória da taxa de poupança dos particulares em percentagem do rendimento disponível espelha a grande expansão do consumo privado em Portugal no período de 1997-2000, descendo cerca de 10 p.p. relativamente à média de 1981-97. A recuperação dessa taxa em 2001 e 2002 coloca-a pouco acima do nível atingido em Espanha.

No domínio da inflação, os dois países fizeram progressos assinaláveis na convergência à UE, em particular Portugal – a taxa de inflação média recuou de 29,3%, em 1984, para 1,9% em 1997. Depois, voltou a subir, atingindo 4,4% em 2001, cerca de 1,2 p.p. acima do valor observado em Espanha e bastante superior à média da UE (+ 1,7 p.p.), pondo problemas de competitividade às empresas portuguesas.

A posição portuguesa em matéria de emprego é claramente superior à de Espanha, onde a taxa de desemprego, embora com tendência decrescente, ainda era cerca do triplo do valor em Portugal em 2001. Igualmente a taxa de desemprego de longa duração em Portugal (1,5% em 2001) é nitidamente inferior à espanhola (5,1% em 2001). Contudo, a baixa taxa de desemprego coexiste com uma baixa produtividade e desemprego oculto, com fracos níveis de valor acrescentado.

O forte crescimento do défice externo (medido pelo défice conjunto da balança corrente e de capital – anterior BTC) a partir de 1996, traduzindo crescentes necessidades líquidas de financiamento da economia face ao exterior, constitui um dos problemas mais graves da economia portuguesa. Com efeito, o défice externo subiu de uma média de 2,3% do PIB, no período 1981-97, para 8,8% em 2000. Em resultado do abrandamento da procura interna, ocorreu ligeira diminuição do défice em 2001 (- 0,7 p.p.), prevendo-se redução mais significativa em 2002. Neste capítulo, a economia espanhola revela um comportamento muito mais favorável, indicando maior equilíbrio entre a poupança interna e o investimento.

Os défices da BTC de Espanha rondaram a média de apenas 1 % do PIB nas décadas de 1980 e 1990, só aumentando para 2,5 % em 2000 e voltando a decair em 2001 e 2002 devido ao esmorecer da actividade económica. Embora a integração na UEM evite os problemas cambiais, o elevado e continuado recurso à poupança externa para financiar o excesso de despesa interna acaba por ser insustentável, impondo restrições ligadas à capacidade de endividamento dos agentes económicos residentes. Défices externos tão avultados indicam sérios desequilíbrios internos e fraca competitividade da economia portuguesa, ameaçando o crescimento sustentado futuro.

A muito baixa produtividade do trabalho em Portugal é outro factor preocupante a concorrer para o desequilíbrio externo e fraco crescimento económico. Em 2002, continuava a ser a mais baixa da UE, representando apenas 65 % da média da União (com a agravante de, em 1997, já ter atingido 67 %), 71 % da Espanha, 76 % da Grécia e apenas 55 % da Irlanda. Os custos unitários do trabalho também têm vindo a crescer mais rapidamente em Portugal do que em Espanha, embora, em 2002, se projecte um certo abrandamento.

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Na área da educação, os vários indicadores apontam para uma situação mais favorável em Espanha, embora este país também se encontre ainda sensivelmente abaixo da média da UE. Assim, o número de jovens que abandonam precocemente a escola é de 1,6 vezes superior ao de Espanha; o indicador de conclusão do secundário é de cerca de 32% da média da União e metade quando comparado com a Espanha; a percentagem da população activa envolvida em acções de formação e educação representa cerca de 40% da média da UE e 70% da registada em Espanha; o número de jovens portugueses com formação superior em ciência e tecnologia representa 63% do existente em Espanha e apenas 27% dos diplomados irlandeses. Cerca de 26% dos cidadãos portugueses terão acesso à Internet em suas casas, valor um pouco superior ao de Espanha (24,7%) mas bastante abaixo da média da UE (37,7%).

É curioso, porém, notar que Portugal canaliza cerca de 5,7% do PIB para despesas públicas com a educação – acima dos 4,5% de Espanha e da Irlanda e dos 5% da média da UE – levantando um problema de eficiência de aplicação de recursos e de funcionamento do sistema educativo.

Um crescimento muito forte da despesa pública (em especial da despesa corrente), a par do abrandamento do aumento da receita, fez com que o défice orçamental português em 2001 fosse muito superior ao valor assumido pelo país no Programa de Estabilidade e Crescimento – a Comissão Europeia apresenta uma estimativa de 2,7% do PIB, mas sujeita a revisão que poderá ultrapassar os 3%. O agravamento das contas públicas constitui outro grave problema para a economia portuguesa.

De facto, a necessidade de respeitar o Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC) obrigará a forte contenção da despesa pública numa conjuntura externa desfavorável e num quadro de nítido abrandamento da procura interna, correndo-se o risco de uma política orçamental pró-cíclica provocar maior desaceleração da economia ou uma recessão. Ao invés, a economia espanhola efectuou a consolidação orçamental no período de maior crescimento (1998-2000), apresentando contas públicas em equilíbrio em 2001, prevendo-se um ligeiro défice de 0,2% em 2002.

 

Relações económicas entre Portugal e Espanha

O comércio bilateral começa a ganhar expressão a partir da segunda metade da década de 1980, depois da adesão dos dois vizinhos ibéricos à CEE. No período 1985-90, as importações de Espanha já ascendiam em média a 12% do total importado.

Posteriormente, essa tendência reforçou-se, aumentando sempre o peso das importações de Espanha, de 19,7%, no período 1991-97, para 25,9% em 2000. Embora a ritmo mais lento, também o peso das exportações para Espanha nas exportações totais portuguesas foi aumentando, representando em 2000 cerca de 19,3%. Em resultado dessa evolução, a respectiva taxa de cobertura agravou-se, de 54,4%, no período 1985-90, para 45,4% em 2000. Na década de 1980, nas exportações de Portugal eram dominantes os têxteis e vestuário, pastas e papel e indústria química.

No que respeita aos fluxos financeiros entre os dois países, as operações de investimento directo (IDE) têm assumido importância significativa nos últimos anos (ver gráfico respectivo). Entre 1990 e 2001, a Espanha terá investido, em termos líquidos, cerca de 5887,8 milhões de euros em Portugal (cerca de 23,2% do IDE total no mesmo período) contra 3253,8 milhões de euros aplicados por empresas portuguesas em Espanha em igual período (representando 13,4% do total do IDE português no exterior). Em termos relativos, as entradas líquidas do IDE espanhol foram especialmente significativas em 2000, 1996 e 2001 (38,36 e 27% do total, respectivamente). No sentido inverso, as aplicações em Espanha, depois de atingirem perto de 51% do total do IDE português no exterior no período 1991-95, perderam importância relativa na segunda metade da década de 1990, em que ganharam relevo as aplicações no Brasil.

Parte relevante do IDE espanhol dirigiu-se à instalação de estruturas comerciais destinadas a importar e vender produtos fabricados em Espanha, enquanto as aplicações portuguesas em Espanha procuram firmar estratégias de entrada no mercado espanhol, nas zonas transfronteiriças e em mercados regionais.

Por outro lado, as operações de investimento de carteira entre Portugal e Espanha resultaram num défice de 3265 milhões de euros para Portugal no período 1993-2001, destacando-se as aplicações líquidas feitas em Espanha em 2000 e 2001.

 

Informação complementar

A ameaça económica de Espanha

Ao longo da história Portugal sempre teve que defender a sua independência e afirmar a sua identidade, em grande parte, por oposição a Espanha. Actualmente surgem novos receios de perda de soberania e dominação espanhola, desta vez por via económica.

Vários aspectos parecem confirmar estes receios. Possuindo maior poder de mercado, a Espanha tem também maior dimensão absoluta (é responsável por 9,3% do PIB da UE, contra apenas 1,7% de Portugal), nível mais elevado de desenvolvimento e qualificação do seu capital humano e situação geográfica mais favorável, aspirando a tornar-se uma potência regional europeia. A Espanha é o principal parceiro comercial (representando cerca de 24% do comércio total de Portugal), com o défice crescente da balança comercial portuguesa a indiciar maior dependência dos produtos espanhóis, e um dos principais investidores, com penetração empresarial em vários sectores da economia portuguesa – banca, construção, imobiliário, comércio, energia, água, telecomunicações, auto-estradas. Porém, se a Espanha considera o mercado português como extensão natural do seu mercado interno, as empresas portuguesas têm igualmente interesse na internacionalização da sua actividade através do mercado espanhol, sendo previsível o prosseguimento da integração das duas economias. A forma de contrariar a “ameaça” espanhola, e defender a especificidade da economia nacional, passa, nomeadamente, por uma estratégia consequente de modernização do aparelho produtivo português, aumento da competitividade empresarial, definição e manutenção dos sectores de decisão estratégica nacionais, alargamento da internacionalização das empresas a outros mercados, reforço da captação de IDE com transferência de tecnologia e aproveitamento da função reguladora da UE.

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* Francisco Mendes

Licenciado em Organização e Gestão de Empresas pelo ISCTE. Docente na UAL.

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Dados adicionais
Gráficos / Tabelas / Imagens / Infografia / Mapas
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