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Janus 2005



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Conjuntura económica internacional

Manuel Farto e Henrique Morais *

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Após o forte crescimento económico observado durante a maior parte da década de 90 do século XX, e que se prolongou por 2000, o ano de 2001 trouxe um abrandamento significativo do crescimento e, na maioria das grandes economias mundiais, com excepção de relevo da China, a recessão económica (1). Deste modo, os bancos centrais nacionais seguiram estratégias de política económica em geral muito agressivas, que implicaram fortes descidas das taxas de juro oficiais desde 2001. Foi assim, entre outros, nos EUA, onde as taxas de juro dos Fed Funds passaram de 6,5%, em finais de 2000, para 1% actualmente, na área do euro, com as taxas de juro oficiais no mesmo período a descerem de 4,75% para 2%, e no Japão, onde se adoptou uma política monetária ultra-expansionista, com as de taxas de juro directoras a chegarem aos zero por cento, nível em que permanecem desde meados de 2001.

Estas descidas das taxas de juro oficiais acabaram por contribuir decisivamente para a retoma das principais economias observada ao longo de 2003, e que parece intensificar-se em 2004, muito embora nalguns casos os bancos centrais nem sequer tenham directamente esse objectivo (como é claramente o exemplo da área do euro, em que o Banco Central Europeu não tem um objectivo específico de crescimento económico).

Com a recuperação das principais economias a que se está actualmente a assistir começam a desenhar-se expectativas de que as taxas de juro oficiais encetem um novo ciclo de subida, voltando para níveis mais ajustados a um crescimento equilibrado e sem pressões inflacionistas. Este processo começou já no Reino Unido, em que após um mínimo (em 3,5%) observado em meados de 2003, a taxa repo já subiu por 3 vezes (a última das quais, em Maio de 2004, para 4,25%) e, tudo o indica, deverá continuar nos EUA, onde poderá prolongar-se para além das eleições norte-americanas de 2 de Novembro. Mais países se deverão seguir, sendo previsível, por motivos diversos, que a área do euro e o Japão possam ser dos últimos a avançar para um ciclo de maior restritividade da política monetária.

Deste modo, em jeito de previsão, 2004 e 2005 vão ser certamente anos marcados por subidas das taxas de juro oficiais, eventualmente mais significativas nos EUA e de menor amplitude noutras regiões de Globo, nomeadamente, pelo menos numa fase inicial, na área do euro.

 

Mercado obrigacionista a derrapar...

Num cenário marcado por menor crescimento económico, por forte desaceleração da inflação (que nalguns casos fez mesmo surgir o espectro da deflação) e por descida abrupta das taxas de juro oficiais nas principais economias, não surpreende que as taxas de juro dos mercados monetário e obrigacionista tivessem registado uma ampla descida ao longo dos últimos anos.

A título meramente ilustrativo, as taxas de rendibilidade implícitas nas obrigações do tesouro a 10 anos norte-americanas, que em 1984 chegaram a situar-se acima de 12% e no início de 2000 andavam entre 6% e 7%, atingiram em Maio de 2003 níveis abaixo de 3,5%. Mais extraordinária ainda foi a evolução dos títulos similares no Japão, onde as taxas a 10 anos chegaram a situar-se próximo de 0,4%! Desde então, assistiu-se a um natural movimento de subida das taxas de rendibilidade, (2) o qual deverá intensificar-se ao longo de 2004, reflectindo as projecções macroeconómicas favoráveis e alguns receios de que a inflação possa aumentar (embora não se vislumbrem, no futuro próximo, tensões inflacionistas de relevo).

Não menos importante será a evolução do mercado accionista: acções fortes poderão induzir taxas de rendibilidade de médio e longo prazo também mais elevadas, reflectindo um movimento de transferência de investimentos do mercado obrigacionista para o accionista, que penalizaria os preços das obrigações e, por arrastamento, induziria subidas mais expressivas das taxas de rendibilidade. Pelo contrário, a eventual descida dos preços das acções, nomeadamente se resultar de um (improvável) abrandamento do crescimento económico ou de receios, mais prováveis, quanto à evolução da conjuntura geopolítica e das taxas de juro oficiais, poderá desencadear uma nova “corrida às obrigações” e a concomitante descida das respectivas taxas de rendibilidade.

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... bolsa a hesitar ...

O mercado accionista é provavelmente dos mercados que mais incerteza incorpora de momento, o que se torna especialmente importante, pois da sua evolução poderão resultar consequências importantes para o consumo das famílias, que se tem assumido como o principal motor do crescimento em boa parte das maiores economias mundiais. Comecemos pelo passado recente: após uma década de 90 globalmente muito positiva para os principais mercados accionistas (com a importante excepção do Japão, mergulhado num espectro recessivo e com a bolsa a corrigir dos excessos dos anos 80), o ano 2000 marcou o início de um ciclo de descida da bolsa, essencialmente determinado pelo abrandamento do crescimento económico e pelos necessários ajustamentos nas empresas que começavam a apresentar níveis de utilização da capacidade produtiva anormalmente baixos.

Paralelamente, em especial depois dos atentados terroristas de 11 de Setembro nos EUA e, mais tarde, do conflito no Iraque, gerou-se um clima de instabilidade nada propício às aplicações de maior risco e, portanto, penalizador para o segmento accionista. Deste modo, no início do primeiro trimestre de 2003, o principal índice tecnológico dos EUA (Nasdaq) tinha perdido 65% do seu valor em finais de 1999, o índice de referência para o mercado europeu (Euro Stoxx) e o Nikkei registavam quedas de cerca de 55% e o DJI perdia mais de 30%! A partir de então, a bolsa começou a subir, recuperando parte das perdas anteriores, sem todavia ter voltado a atingir, nem de perto nem de longe, os níveis observados no final de 1999. O actual contexto é rodeado de incerteza.

Se, por um lado, a consolidação da recuperação económica e o expressivo aumento dos resultados das empresas (que estão agora mais sólidas, após anos de cortes nos custos, sobretudo a nível da mão-de-obra) aconselham a uma previsão de forte subida das acções, por outro lado subsistem os receios associados à não clarificação dos principais focos de conflito geopolítico internacional, encabeçados naturalmente pela situação no Médio Oriente. Além disso, começa a desenhar-se um cenário de fortes subidas das taxas de juro oficiais, nomeadamente nos EUA, o que poderá ter algum impacto no mercado de acções. A este propósito, convirá analisar o comportamento das acções em dois períodos similares no passado recente, na medida em que corresponderam a movimentos expressivos de subida das taxas de juro oficiais nos EUA. No primeiro, entre finais de Janeiro de 1994 e o início de Fevereiro de 1995, em que as taxas de juro oficiais subiram de 3 para 6%, a bolsa norte-americana não apresentou uma tendência clara, oscilando repetidamente num intervalo de variação na ordem de 10%. Todavia, a partir do momento em que os investidores se aperceberam de que o ciclo de subida das taxas oficiais estava terminado (algures próximo do final de Janeiro de 1995), desencadeou-se um movimento de forte subida dos preços das acções (entre aquela data e finais de Maio, o DJI valorizou-se cerca de 13%).

O segundo período importante ocorreu entre Novembro de 1999 e Maio de 2000, durante o qual as taxas de juro oficiais nos EUA aumentaram de 5,25% para 6,5%. Inicialmente, a bolsa reagiu de forma positiva ao começo do ciclo de subida das taxas. Todavia, quando aquele se intensificou, o mercado começou a corrigir e, em Junho de 2000, encontrava-se praticamente ao mesmo nível do observado antes da primeira subida de taxas. Embora o enquadramento actual apresente substanciais diferenças face ao que se verificava em 1993 e em 1999, ainda assim a história recente não aponta de forma alguma para a inevitabilidade do ciclo de subida das taxas de juro oficiais vir a ser acompanhado por um movimento de descida das acções.

 

... petróleo a subir!

Em 14 de Maio de 2004, o preço do petróleo (Dated Brent) ultrapassou os 39 dólares norte-americanos por barril, situando-se num nível que, desde 1983, apenas teve paralelo em Setembro de 1999. Por outro lado, os preços do ouro negro, quando expressos em dólares dos EUA, estão agora cerca de 30% acima dos níveis que se observavam no início do corrente ano. Acresce que o dólar, em relação ao euro, está presentemente cerca de 6% acima dos níveis observados no início do ano pelo que, expresso na moeda única, o preço do petróleo subiu perto de 40%, em apenas 5 meses.

Este movimento de forte subida dos preços do petróleo, que tem sido observável a nível de outras mercadorias (como pode ser constatado pela evolução do índice de mercadorias designado CRB) e dos metais preciosos, tem sido gerado por alguma expectativa em torno de um eventual aumento da procura, face à esperada aceleração do crescimento económico mundial. Para além disso, o preço do petróleo tem sido condicionado pelos receios quanto aos actuais níveis de oferta, com os países produtores (nomeadamente no seio da Organização dos Países Exportadores de Petróleo) a considerarem-na equilibrada e, consequentemente, a não reagirem aos insistentes apelos oriundos dos países industrializados no sentido de se aumentar a oferta.

Por último, mas não menos importante, a permanente tensão em que se encontra envolvido o Médio Oriente tem provocado perturbações no mercado, o qual reage de imediato (subindo os preços) de cada vez que surgem notícias ou apenas rumores quanto a atentados terroristas a postos de petróleo no Iraque.

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1 A recessão económica, tecnicamente entendida como dois trimestres consecutivos de queda do Produto Interno Bruto, foi observada, entre outros, nos EUA (entre o 1º e o 3º trimestres de 2001), no Japão (entre o 2º trimestre de 2001 e o 1º trimestre de 2002), na Alemanha, no 2º semestre de 2001 e no 1º semestre de 2003, na Suíça, no 1º semestre de 2002 e entre o 1º e o 3º trimestres de 2003.
2 Em 10 de Maio de 2004, as taxas de rendibilidade a 10 anos nos EUA rondavam os 4,80%, na área do euro 4,30% e no Japão situavam-se próximo de 1,50%.

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* Manuel Farto

Licenciado em Economia pelo ISEG. Doutorado em Economia pela Universidade de Paris-X. Docente no ISEG. Docente visitante da Universidade de Orléans (França) e da Universidade Federal da Paraíba (Brasil). Subdirector do Observatório de Relações Exteriores da UAL.

* Henrique Morais

Licenciado em Economia pelo ISEG. Mestre em Economia Internacional pelo ISEG. Docente na UAL e na Universidade do Algarve. Assessor do Banco de Portugal. Membro do Conselho Directivo do Observatório de Relações Exteriores da UAL.

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