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O peso da China no mundo: o investimento internacional

Henrique Morais *

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Definidos que estão os contornos principais do poderio económico chinês a nível do comércio internacional, com destaque para o expressivo crescimento do peso da China no contexto das nações, seria interessante analisar os padrões regionais do comércio mundial.

Trata-se, afinal, de uma forma de avaliar até que ponto estamos a assistir apenas a um fenómeno localizado de um país em acentuado crescimento económico ou, ao invés, se trata de um movimento global de progressiva translação dos centros económicos e de comércio mundiais rumo a uma nova zona central, isto é, rumo à Ásia.

É que, se esta última hipótese se revelar mais provável, então as consequências a nível da organização económica, e porventura social, do mundo contemporâneo e, em particular, da “Velha Europa” poderão ser suficientemente avassaladoras para justificar que, ao menos neste cantinho periférico em que nos situamos, se olhe com uma maior atenção para a longínqua Ásia dos tigres e dos dragões.

 

O peso do comércio regional e inter-regional

A análise dos padrões do comércio numa óptica regional e inter-regional é bastante elucidativa quanto à avaliação do peso específico da Ásia no comércio internacional e, indirectamente, da própria China.

Deste modo, procurou-se estabelecer uma matriz que releve o peso do comércio inter-regional nas principais áreas do globo. Como seria de esperar, verifica-se que a Europa Ocidental (naturalmente, muito por “responsabilidade” da União Europeia) comercializa essencialmente consigo própria (67,7%), sendo portanto a zona do globo mais “fechada” ao comércio internacional. Ao invés, o Médio Oriente, África e América Latina são zonas mais abertas ao comércio internacional com outras áreas geográficas, embora, como é sabido, muito por via de dependências crónicas que a guerra, a escassez de recursos e, no caso específico do Médio Oriente, os petrodólares , foram gerando.

Por outro lado, é particularmente expressivo o peso do comércio inter-regional na Ásia (49,9%), que aliás é superior ao que se verifica na América do Norte, o que não deixa de ser algo surpreendente e confirma a ideia de que a Ásia, mais do que um mero exportador para o resto do mundo (sobretudo para as economias mais avançadas da América do Norte e da Europa), é hoje uma potência regional verdadeiramente fundamental para a evolução da economia mundial. Além disso, esta matriz confirma a Ásia como o maior parceiro regional da América do Norte, destronando dessa posição a Europa Ocidental.

Em conclusão, a Ásia representava em 2003, cerca de 26,1% do comércio mundial, estando já acima do peso específico da América do Norte (13,7%) e aproximando-se da Europa Ocidental. Tudo leva a crer que, de então para cá, esta dinâmica asiática se tenha acentuado e que, nas próximas duas décadas esta zona do globo venha a ser o centro nevrálgico do comércio mundial.

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Investimento internacional

O investimento directo estrangeiro (IDE) a nível mundial tem vindo a diminuir nos últimos anos (atingindo 559,5 mil milhões de dólares em 2003, quando em 2000 era de 1.387,9 mil milhões de dólares), o que está associado ao abrandamento do investimento nos países desenvolvidos, com destaque para os EUA.

Nos países em desenvolvimento esse movimento de abrandamento do IDE tem sido menos evidente (apesar dos níveis de investimento nos primeiros anos do século XXI estarem longo do observado em 1999/2000), destacando-se, pela positiva, claramente a China onde os fluxos de investimento estrangeiro têm vindo a aumentar.

Na realidade, o peso do investimento directo estrangeiro destinado à China situou-se, em 2003, em torno de 9,6%, tornando-a a 2ª economia do mundo em termos de fluxos de investimento directo estrangeiro, logo a seguir à área do euro (1).

Por outro lado, no quadro dos países em vias de desenvolvimento, a primazia da China enquanto destino do capital internacional é inquestionável: em 2003, cerca de 27,7% do IDE destinado aos países em desenvolvimento foi dirigido para a China e, se contabilizarmos ainda os investimentos em Hong Kong, verifica-se que o gigante asiático recebeu cerca de 34,7% do IDE destinado aos mercados em desenvolvimento. Para se ter uma ideia da expressividade destes números, basta dizer que todo o investimento na Europa Central e de Leste, adicionado ao IDE com destino ao Brasil, México e Singapura é ainda inferior aos fluxos que tiveram a República Popular da China como destino.

Naturalmente, perante a maior atractividade da China enquanto destino do capital internacional nos últimos anos, tem vindo a registar-se um aumento substancial do peso deste país no quadro do investimento directo estrangeiro acumulado. Deste modo, o IDE acumulado na China atingia, em 1980, cerca de 1,08 mil milhões de dólares norte-americanos (mM USD), o que representava apenas 0,2% do IDE mundial. Naquele ano, o IDE acumulado em Hong Kong atingia 177,8 mM USD e, somente a título de curiosidade, em Portugal era de 3,7 mM USD...

Passados apenas 10 anos (em 1990), o IDE acumulado na China era já de 20,7 mM USD, representando 1,1% do total mundial. Portugal deixava de ser uma comparação relevante e Hong Kong estava agora mais próximo (201,7 mM USD). Em 2000, o IDE acumulado na China elevava-se a 348,3 mM USD (5,7% do total mundial), para, em 2003, os 501,5 mM USD investidos na China representarem 6,1% do total de investimento estrangeiro acumulado no mundo.

O aumento exponencial da importância da China enquanto destino do IDE volta a ser flagrante quando confrontamos com os dados para os países em desenvolvimento normalmente mais citados pela sua capacidade de atracção de investimento externo. Deste modo, mesmo excluindo Hong Kong (que aliás manteve uma notável capacidade de atracção e investimento estrangeiro depois do retorno da soberania chinesa) verifica-se que o investimento directo estrangeiro acumulado na China é superior ao somatório do investimento acumulado nos três outros países em desenvolvimento de referência, isto é, Brasil, México e Singapura.

Por último, analisou-se o peso do investimento directo estrangeiro acumulado nos diferentes países em termos relativos, isto é, em função de outras variáveis macro-económicas de relevo. No que diz respeito ao rácio do investimento directo estrangeiro face ao produto interno bruto, verifica-se novamente a primazia da China, onde o investimento directo estrangeiro acumulado atingiu, em 2003, cerca de 35,6% do PIB (bastante acima da média mundial, que se situava em 22,9%). De entre os principais mercados de atracção para o IDE, somente o Luxemburgo, pelas razões já assinaladas, Hong Kong e Singapura apresentam rácios mais elevados do que a China.

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1 Em bom rigor, se exceptuarmos o caso do Luxemburgo que continua a ser o país que recebe fluxos de IDE mais significativos (por motivos técnicos e de fiscalidade, e não tanto por ser o real destino do investimento), a China é hoje o destino preferido para o capital internacional, destronando os EUA, que ocupava tradicionalmente essa posição.

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* Henrique Morais

Licenciado em Economia pelo Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG). Mestre em Economia Internacional pelo ISEG. Docente na UAL e na Universidade do Algarve. Assessor do Banco de Portugal. Membro do Conselho Directivo do Observatório das Relações Exteriores da UAL.

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Dados adicionais
Gráficos / Tabelas / Imagens / Infografia / Mapas
(clique nos links disponíveis)

Link em nova janela Investimento directo estrangeiro (milhões USD)

Link em nova janela Peso do comércio inter-regional nas exportações de cada região (2003)

Link em nova janela Peso do comércio regional no mundo (2003)

Link em nova janela IDE acumulado (% do total mundial)

Link em nova janela IDE acumulado (% do PIB)

Link em nova janela Investimento directo estrangeiro (% total)

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