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O arranque asiático e a energia e ambiente mundial

José Manuel Félix Ribeiro *

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O crescimento da economia mundial tem vindo a depender de forma significativa da emergência de economias asiáticas – com destaque para a China e Índia – as quais estão envolvidas, em graus e formas distintas, em três processos geradores de forte procura de petróleo e gás natural – industrialização, urbanização e motorização (1). Quer a China quer a Índia são importadoras líquidas de petróleo em larga escala e irão actuar no sentido de garantir o futuro acesso a recursos de hidrocarbonetos que necessitam para o seu desenvolvimento. Se é possível que se venham a verificar descobertas significativas de novos jazigos nos mares da China (mar da China Oriental e mar do Sul da China), tal não impede que se coloque como questãofundamental para o futuro geopolítico da região saber se essas economias irão apoiar-se no mercado ou no mercantilismo e militarismo para assegurar esse abastecimento e, para o futuro ambiental do planeta, se vão continuar a utilizar de forma maciça e “suja” o carvão – a única energia fóssil de que dispõem em larga escala.

Por sua vez, as duas economias mais desenvolvidas do mundo – os EUA e o Japão – sendo ambos importadores líquidos de petróleo vão estar no mercado procurando assegurar o seu abastecimento.

Tendo como base o conhecimento actual das reservas provadas de petróleo convencional, a economia mundial encaminha-se, dentro das próximas três décadas, para um ponto da curva de produção que representará o máximo histórico de produção anual – o peak oil . E não é preciso concordar com as correntes mais pessimistas, que colocam esse momento no presente ou no depois de amanhã, para reconhecer a dimensão do problema.

Não significa isto, de modo nenhum, que a economia mundial vá ficar sem hidrocarbonetos nas próximas décadas, mas tão só que terá que contar mais, quer com o gás natural, quer com as formas não convencionais de petróleo desde o offshore ultraprofundo às areias ou aos xistos betuminosos. Estas formas não convencionais de extracção são muito mais intensivas na utilização de capital e apresentam um balanço energético inferior, dado que exigem muito mais inputs energéticos para obter uma unidade de output do que as formas actualmente dominantes. Traduzem-se estas duas características em preços de extracção mais elevados.

As economias emergentes e as economias desenvolvidas que irão marcar o desenvolvimento mundial na primeira metade do séc. XXI têm hoje um local comum principal para se abastecerem em petróleo e gás natural – o Golfo Pérsico – sendo a Rússia e o Cáucaso/Ásia Central uma segunda base comum de abastecimento e o Árctico uma terceira base num futuro mais distante

À medida que a economia mundial se aproximar do peak oil , mais cruciais vão ser as decisões relativas à produção que vierem a ser tomadas pelos países produtores do Golfo Pérsico onde estão localizadas a maior parte das reservas provadas de “petróleo convencional” e com menor custo de extracção.

Essas decisões serão tomadas tendo em conta a profunda assimetria que existe entre os produtores de petróleo do Golfo Pérsico – se a Arábia Saudita detém as maiores reservas de petróleo, é o Irão que detém as maiores reservas de gás natural, o combustível de transição que se segue ao petróleo para várias aplicações

Assume-se hoje a crescente divergência entre o ritmo da procura de energia – supondo a continuação do crescimento das economias emergentes da Ásia e da procura de petróleo e gás natural que ele determina – e a evolução da oferta baseada nos jazigos que asseguram actualmente o essencial da produção mundial, evolução essa marcada por um claro declínio, resultante da entrada na fase descendente das curvas de produção de muitos desses jazigos.

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A diferença, para ser suprimida, exige um acréscimo substancial da oferta – quer resultante de novas descobertas, quer do aumento da capacidade de produção de jazigos existentes devido a tecnologias que aumentem a taxa de recuperação

O que significa um intenso esforço de investimento e, quase seguramente, um substancial aumento de produção pelos países do Golfo Pérsico, com uma maior abertura ao investimento das companhias ocidentais nesses países. Ora nem uma condição nem outra estão à partida garantidas.

Se pensarmos apenas em termos de petróleo e gás natural, a economia mundial não pode deixar de ser vista como estando a aproximar-se rapidamente de um período de grande turbulência geoeconómica e geopolítica.

Uma potência que queira manter a sua preponderância mundial nas próximas décadas tem que garantir uma influência decisiva na evolução política do Golfo Pérsico – a “estação de serviço” da Ásia emergente – e nas decisões que forem tomadas pelos países produtores quanto ao modo de gerirem as suas reservas. E tem que o fazer no quadro de uma substancial renovação das suas alianças na região. A política norte-americana na região orienta-se nesta direcção mas depara-se com o problema espinhoso que constitui a postura do Irão.

Se olharmos agora para as apostas que a Administração norte-americana está a fazer em termos de tecnologias energéticas de transição para um mundo com menos “petróleo convencional”, encontramos:

• uma aposta central na utilização limpa e diversificada do carvão (2) – para produzir electricidade, hidrogénio para as fuell cells e combustíveis sintéticos menos poluentes – sequestrando o dióxido de carbono libertado e/ou utilizando-o para injecção nos velhos jazigos de petróleo com o objectivo de elevar a sua produção;

• um renovado interesse na energia nuclear, com tecnologias mais seguras, menos “proliferantes” e que permitam obter simultaneamente electricidade e hidrogénio. Isto para além de as agências e laboratórios militares continuarem a apoiar a investigação na área da fusão fria .

Ora, as maiores reservas mundiais de carvão encontram-se nos EUA, China, Índia e Rússia – o que ajuda a modificar a percepção geoeconómica da energia, quando apenas inspirada pelo que se passa a nível do petróleo.

Em termos de diplomacia económica, em 28 de Julho de 2005 os EUA, o Japão, a Coreia do Sul, a Austrália, a China e a Índia assinaram um acordo ( Asia Pacific Partnership on Clean Development and Climate ) que visa a redução da emissão de gases responsáveis pelo efeito de estufa, trabalhando em conjunto para desenvolver e aplicar tecnologias não poluentes, indo ao encontro das crescentes necessidades de energia, explorando a forma de reduzir a intensidade do efeito de estufa. Este acordo, que se assume como complementar do protocolo de Quioto, reúne quatro dos países com maiores reservas de carvão – EUA, China, Índia e Austrália. De entre as áreas em que desde já vai incidir essa cooperação tecnológica salientam-se:

• O ciclo combinado de gaseificação integrada, que permita converter o carvão em gás sintético, removendo a maior parte do dióxido de enxofre e outras emissões antes de queimar o gás para accionar turbogeradores e produzir electricidade; o calor libertado desse gerador aquecerá água transformando-a em vapor que fará mover um segundo turbogerador, produzindo mais electricidade (é o princípio do ciclo combinado);

• gás natural liquefeito;

• Recolha e sequestração do carbono; bombeando as emissões de CO2 para jazidas de petróleo e gás já esgotadas;

• Energia nuclear para fins civis;

• Sistemas de energia geotérmica para utilização em cidades ou em zonas rurais;

• Utilização da biomassa, da energia eólica, da energia hídrica e solar.

A mais longo prazo essa cooperação incidirá em áreas como a utilização do hidrogénio como combustível “amigo do ambiente” graças à utilização de fuel cells ; as nanotecnologias, como área de grande relevância para vários avanços em distintas tecnologias energéticas e a utilização da fusão nuclear.

Mas a contribuição dos EUA, Japão e Europa para reduzir o impacto ambiental da emergência das economias asiáticas não passa apenas pelos avanços na área do novo nuclear ou do “carvão limpo” e da sequestração do carbono, mas também por dois tipos de avanços centrados no sector dos transportes:

• Substituir uma parte da mobilidade de pessoas pela exploração da virtualidade, tornada possível pela sofisticação no uso das tecnologias de informação;

• Deslocar a mobilidade para novas soluções de motorização híbrida e eléctrica, enquanto não estiver disponível uma solução competitiva para obtenção de hidrogénio, seu transporte e as respectivas infra-estruturas de distribuição.

A prazo e no domínio energético novas interacções poderão vir a envolver quatro grandes forças motrizes na economia mundial no horizonte de 2015: emergência de economias; restrições na oferta de petróleo; degradação e riscos ambientais e inovação nas tecnologias.

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Informação Complementar

A África do Sul - no centro das novas oportunidades energéticas?

Novas utilizações do carvão

Esta é uma área em que empresas da África do Sul, com destaque para a SASOL, detêm uma competência de primeiro plano a nível mundial, traduzida no desenvolvimento de soluções de obtenção de combustíveis sintéticos em forma líquida a partir do carvão, utilizando a tecnologia Fisher-Tropsch (originária da Alemanha e surgida nos anos 20 do século passado) em alta temperatura, sob a designação Sasol Advanced Synthol Process .

 

Gás natural e combustíveis sintéticos

Desde finais dos anos 90 que quase todas as grandes empresas mundiais do petróleo anunciaram planos para construir instalações-piloto ou para iniciar a comercialização de diesel mediante o recurso a processos melhorados, tendo como base a tecnologia Fischer-Tropsch e como output combustíveis sintéticos.

Os progressos a nível tecnológico incidiram nomeadamente no desenvolvimento de um processo de baixas temperaturas que dá origem a um sintético ultra limpo, virtualmente isento quer de enxofre quer de aromáticos. O produto resultante deste processo alia às manifestas vantagens do ponto de vista ambiental, o facto de não levantar novos problemas nos domínios da eficiência dos motores, dos custos de capital e da criação de novas infraestruturas.

O principal actor neste domínio é uma multinacional de base sul-africana, a SASOL, uma empresa de hidrocarbonetos com grandes interesses na química, que mediante o recurso a tecnologias Fischer-Tropsch de que é proprietária produz, desde há cerca de 50 anos, combustíveis sintéticos e outros produtos químicos. Esta firma associou-se à norte-americana Chevron numa joint venture destinada ao desenvolvimentio futuro e comercialização desta tecnologia.

 

Nuclear

A África do Sul detém a liderança tecnológica mundial num tipo de reactores de IV geração, dentro da categoria HTGR – reactores de alta temperatura e utilizando gás (hélio) no arrefecimento do reactor. A empresa de elctricidade ESKOM colabora neste desenvolvimnento com a britânica British Nuclear Fuels.

Os reactores do tipo PBMR (Pebble Bed Modular Reactor) a ser desenvolvidos pela África do Sul apresentam várias vantagens face aos actuais tipos de reactores, mesmo os recém-lançados de III geração:

• São mais seguros, na medida em que com um pequeno núcleo e o combustível nuclear disperso por centenas de milhares de esferas de grafite, as pebbles , se torna impossível em termos físicos um meltdown do núcleo;

• Permitem obter electricidade a um custo mais reduzido, já que a utilização para arrefecer o reactor do hélio, não corrosivo, e aquecido a mais de 700º permite uma eficiência de 42% superior aos 32% dos actuais reactores de água ligeira;

• Apresentam menos riscos de contribuir para a proliferação, pela maior dificuldade em desviar para fins militares o urânio enriquecido utilizado como combustível nuclear, já que este se apresenta encastrado em nódulos de outros materiais;

A prazo, os PBMR abrem a possibilidade de produção económica e em larga escala de hidrogénio, por via termoquímica, graças às temperaturas elevadíssimas atingidas no seu núcleo.

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1 - Recorde-se que o crescimento da economia mundial entre 2001 e 2004 se pode explicar em 49% pelo crescimento da Ásia, 19% pelo crescimento dos EUA e cerca de 5% pelas economias da zona Euro.

2 - Vd. US Department o f Energy; Office of Fossil Fuels; “ Coal & Natural Gas Power Systems”- Program Vision 21 e Futuregen.

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* José Manuel Félix Ribeiro

Licenciado em Economia pelo Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras. Subdirector Geral do Departamento de Planeamento e Prospectiva.

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Dados adicionais
Gráficos / Tabelas / Imagens / Infografia / Mapas
(clique nos links disponíveis)

Link em nova janela Procura e oferta de petróleo: o desafio das próximas décadas

Link em nova janela Pricipais fluxos de abastecimento petrolífero

Link em nova janela O "mundo do carvão" versus o "mundo do petróleo"

Link em nova janela Energia, Ambiente e Tecnologias em busca de uma trajectória mais sustentável

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