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- JANUS 2007 -



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Rick Warren e as igrejas de crescimento rápido

Silas Oliveira *

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O pastor Rick Warren iniciou a sua igreja em Janeiro de 1980, com cerca de quinze pessoas que reunia na sua própria casa, para estudo bíblico. No culto de abertura, no domingo de Páscoa, tinha uma congregação de 205 pessoas, em grande maioria não praticantes de qualquer igreja, convidadas por correio – na forma de uma carta redigida, expressamente, para os descrentes e os “sem-igreja”, e enviada em 15.000 cópias a toda a comunidade vizinha.

Passados estes anos, a Saddleback Valley Community Church (seu título oficial), no Sul da Califórnia (EUA), é considerada a igreja baptista de mais rápido crescimento em toda a história. Tem mais de 18.000 membros efectivos, mas o culto principal de domingo pode ultrapassar este número de presenças. Na opinião de Rick Warren, tem mesmo de ultrapassar, ou então os crentes não estão a cumprir a sua missão de trazer os descrentes. O ficheiro total de contactos da igreja ( church roll ), que inclui os frequentadores não regulares, ultrapassa os 80.000 nomes.

Além disto, desenvolve uma estratégia de expansão que já deu origem a outras 34 “igrejas-filhas”, e 5.000 dos seus membros estão envolvidos em projectos missionários no estrangeiro. O Pastor Rick Warren exporta o seu método e dois dos seus livros, The Purpose Driven Church e The Purpose Driven Life , têm sido usados por milhares de outros pastores interessados neste modelo de crescimento.

Num tempo em que quase todas as igrejas “históricas” se ressentem da desertificação dos seus templos e da crise de vocações associada à secularização, este fenómeno das mega-churches é motivo de perplexidade e de uma certa ambivalência de atitudes. Não faltam os seus críticos – que reprovam o conceito de uma igreja customer-friendly – como não faltam os seguidores entusiastas. Rick Warren dedica o segundo capítulo de Uma Igreja com Propósitos (1) ao trabalho de refutar as acusações dirigidas às igrejas de crescimento rápido.

Ele mesmo filho de um pastor baptista, casado com a filha de outro pastor, cresceu no coração da cultura Southern Baptist dos EUA. É um conservador, em termos doutrinários e morais, e a Igreja de Saddleback é membro da Southern Baptist Convention (Convenção Baptista do Sul), considerada a maior denominação protestante nos EUA.

 

O isco e o peixe

Os “segredos” do método de crescimento da igreja de Rick Warren são descritos pelo próprio, com toda a franqueza, em Uma Igreja com Propósitos . Como californiano, ele começa por aplicar a imagem do surf à evangelização moderna: é Deus quem cria as ondas, os praticantes de surf só têm que saber apanhá-las e manter o equilíbrio. “Creio que Deus envia as ondas de crescimento onde quer que o seu povo esteja preparado para pegá-las...” ( op . cit ., pág. 19).

Em segundo lugar, Rick Warren decidiu, desde o início, que a sua igreja nascente não tentaria atrair cristãos de outras igrejas já implantadas na região, mas sim “alcançar os sem-igreja para Cristo.”

Outra imagem usada por Rick Warren é a da pesca, a partir do texto do Ev. Mateus 4:19, em que Jesus diz aos primeiros discípulos, Pedro e André: “Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens.” Trata-se então de saber pescar, de conhecer os hábitos dos diversos tipos de peixe, de escolher o isco apropriado.

Rick Warren conta que passou doze semanas a fazer uma pesquisa de opinião no vale de Saddleback, indo de casa em casa com cinco perguntas simples: 1. – Qual acha que é a maior necessidade desta região? 2. – Está a frequentar alguma igreja? (se a resposta fosse afirmativa, ele agradecia e passava à casa seguinte; só lhe interessavam os “sem-igreja”) 3. – Por que acha que a maioria das pessoas não vai à igreja? 4. – Se estivesse à procura de uma igreja para frequentar, que tipo de coisas iria buscar? (“Esta questão simples me ensinou mais como pensa um não crente do que todo o treinamento que recebi no seminário. Descobri que a maioria das igrejas estava oferecendo programas em que os sem-igreja não estavam interessados.”) 5. – O que posso fazer por si?

 

Crescer de fora para dentro

Esta pesquisa de público-alvo conduziu ao retrato-robô de uma figura denominada Saddleback Sam: um homem na casa dos quarenta anos, com formação universitária, céptico em relação à “religião organizada”, satisfeito com a sua posição na vida, casado com Saddleback Samantha e com dois filhos. Gosta de música contemporânea e sente-se melhor em situações informais.

O modelo do culto foi adaptado a este retrato. Rick Warren admite que “o rock é o principal estilo musical que escolhemos para usar na nossa igreja” ( op . cit ., pág. 344).

O crescimento é explicado num esquema de cinco “círculos de compromisso”.

O grande anel exterior designa a comunidade dos descrentes da região, portanto os “sem-igreja” que se pretende evangelizar. Há depois a “multidão” dos frequentadores regulares do culto de adoração (podem até ser descrentes).

O terceiro círculo é o dos membros baptizados, que mantêm um compromisso pessoal de pertença à igreja. O quarto descreve um nível de envolvimento ainda maior: são crentes que praticam um culto privado diário, contribuem com o dízimo e participam num dos pequenos grupos activos. Há por fim o núcleo central, uma minoria de leigos especializados nos vários ministérios da igreja.

Em última instância, espera-se dos que chegam a esse núcleo central que estejam suficientemente equipados e motivados para voltarem, agora como “missionários”, à grande comunidade exterior, ajudando a fundar novas igrejas. Para Rick Warren, uma igreja saudável cresce “de fora para dentro, e não de dentro para fora.” O seu ponto de partida (e de chegada) é a comunidade dos descrentes, não o núcleo fiel. “Este conselho é o oposto dos sugeridos nos livros sobre a implantação de novas igrejas.”

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Informação Complementar

Os cinco propósitos da Igreja

Rick Warren assenta os cinco Propósitos em que baseia o seu método de crescimento em duas passagens do Novo Testamento, em que Jesus define o Grande Mandamento (Ev. Mateus 23: 35-39) e a Grande Comissão (Ev. Mateus 28: 19-20). Destes textos decorrem as cinco tarefas indispensáveis a “Uma Igreja com Propósitos”:

1. – Adoração.
2. – Ministério de serviço ao próximo, em todas as suas necessidades.
3. – Evangelização.
4. – Baptismo, que integra o novo crente na comunhão da igreja.
5. – Discipulado, ou o ensino da obediência a Cristo.

Por este lado, a sua teologia é conforme à mais tradicional “ortodoxia” evangélica. Mantém que os propósitos são estes e não outros, e rejeita explicitamente a teologia da Saúde e Prosperidade (designada nos EUA pela expressão Health and Wealth Gospel), que está na base de todo um outro método de fundação de grandes igrejas. (2) Também não se confunde com os “tele-
-evangelistas”, que assentam o seu ministério nos meios de comunicação de massas, normalmente cadeias de televisão que transmitem o culto em directo de um grande estúdio. O espaço de Rick Warren continua a ser o da igreja local.

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1 - Uma Igreja com Propósitos . Editora Vida: São Paulo (Brasil), 1997.
2 - Em Portugal, as principais confissões representantes desta corrente são a IURD e a Igreja Maná.


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* Silas Oliveira

Licenciado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa. Jornalista e Assessor em órgãos de soberania.

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