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- JANUS 2008 -



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Work-life: europeus preferem horários standard

Clara Viana *

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Os chamados quadros e executivos avultam entre a minoria de europeus insatisfeitos com a conciliação entre o trabalho e a vida privada. Os homens também estão mais descontentes do que as mulheres. Mas não em Portugal...

Uma maior flexibilidade de horários tende a ser equiparada, pela maioria dos europeus, a uma pior performance na conciliação entre trabalho e vida privada. É uma perspectiva conservadora a que prevalece na União Europeia: a maioria dos trabalhadores comunitários considera que o balanço trabalho-vida é mais bem conseguido com horários do tipo das “nove às cinco” ou seja, com horas certas para entrar e sair, jornadas de duração fixa e em períodos considerados “normais”. É esta, aliás, ainda a situação da maioria dos trabalhadores da UE: 58 por cento trabalham o mesmo número de horas por dia; 74 por cento o mesmo número de dias por semana e 61 por cento têm horas fixas de entrada e de saída. A maioria trabalha cinco dias em semanas de 40 horas.

Num mundo em que a mudança, sobretudo no trabalho, parece constituir uma palavra-chave, esta invariabilidade, encarada com agrado pelos europeus, explica que a maioria deles, incluindo os portugueses, continue a mostrar-se satisfeito com o modo como o trabalho, e a vida para além dele, se articulam. Esta é uma conciliação bem conseguida para 80 por cento dos trabalhadores da União Europeia, mas que derrapa entre os que são obrigados a longos horários de trabalho — mais de 44 por cento dos europeus que trabalham 48 horas por semana, ou mais, revelam-se insatisfeitos.

São dados que constam no quarto Inquérito Europeu sobre Condições de Trabalho ( European Working Conditions Survey, EWCS ), realizado em 2005 em 31 países (os actuais 27 da UE, Croácia, Turquia, Suíça e Noruega), e cujos primeiros resultados foram divulgados no final do ano passado. Foram entrevistados cerca de 30 mil trabalhadores.

Promovido de cinco em cinco anos pela Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho (um organismo da Comissão Europeia), o mais recente EWCS veio confirmar que as tendências gerais neste domínio não se alteraram substancialmente com a entrada dos 12 novos Estados membros da UE, a maioria do antigo bloco de Leste, embora tenham aumentado as percentagens de descontentes.

Estas tendências ressaltam também do primeiro Inquérito Europeu sobre Qualidade de Vida, promovido pela mesma Fundação em 2003.

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“Velha” UE e “nova” UE

Os trabalhadores da antiga UE a 15, mais rica, dão conta de menores dificuldades em conciliar o trabalho com a vida familiar, do que os trabalhadores dos novos Estados membros. Em média, 22 por cento na UE a 15; 29 por cento nos primeiros 10 novos Estados membros e 36 na Bulgária, Roménia e Turquia, admitem que, várias vezes por semana, saem do trabalhado demasiado cansados para conseguir realizar tarefas em casa. Esta fronteira também pesa entre os membros mais antigos da UE: há menos gente a manifestar-se “demasiado cansada” nos países do Norte da Europa do que nos do Sul e também na Grã-Bretanha, onde 27 por cento se queixam daquele mal (a média comunitária está nos 23). Portugal ocupa o quarto lugar: são 25 por cento os que dizem estar nesta situação.

As melhores performances são as obtidas pela Áustria e Holanda (só 12 por cento de “cansados”) e as piores pela Espanha e Letónia (39 e 47 por cento, respectivamente). Apesar de menos “cansados” dos que os espanhóis, mais de 40 por cento dos gregos consideram que o tempo despendido no trabalho compromete as obrigações exteriores a este (familiares e sociais). É a maior percentagem de insatisfeitos entre os 27 Estados membros — em média, esta dificuldade é assumida por cerca de 20 por cento dos cidadãos comunitários (em Portugal, é assumida por cerca de 18 por cento). No extremo oposto figuram a Áustria e a Dinamarca, com cerca de 11 por cento de insatisfeitos.

Estas lideranças contrárias confirmam que existe uma correlação positiva entre o número de horas de trabalho e a insatisfação com a conciliação entre este e a vida familiar. A duração do horário de trabalho é a variável com mais influência num melhor ou pior balanço entre aquelas duas componentes e que determina em grande parte três fronteiras: regional, profissional e de género.

Em média, os países do Norte da Europa — com menos insatisfeitos — estão aquém das 40 horas, enquanto os do Sul rondam este patamar (Portugal e a Grécia ultrapassam-no).

 

Horários longos

Os indivíduos com longos horários de trabalho (48 horas ou mais) são uma minoria em queda: 18,5 por cento em 1991, na UE a 12, para 14,8 em 2005, na UE a 27. Com acentuadas variações nacionais: Portugal alinha pela média europeia, na Grécia a percentagem dos que têm uma semana de 48 ou mais horas sobe para os 32 por cento, enquanto em França rondará os sete por cento. Com a generalização dos “emagrecimentos” empresariais e da deslocalização, a tendência é para acentuar o fosso: uma minoria a trabalhar cada vez mais horas, e uma maioria oscilando entre o desemprego e o trabalho precário.

Independentemente do país ou a região, a duração da jornada de trabalho tende a ser determinada pela situação na profissão. Entre os trabalhadores por conta própria, são 44 por cento os que trabalham mais de 48 horas. No contingente dos por conta de outrem, esta percentagem fica-se pelo nove por cento. Os chamados quadros, com especial realce para aqueles que exercem cargos de supervisão / direcção, trabalharão, em média, mais 4,3 horas por semana do que os restantes.

Como o descontentamento com a conciliação entre trabalho e vida privada aumenta com horários mais longos, conclui-se que há mais insatisfeitos a Sul do que a Norte, mas também que, para lá das diferenças regionais, existe uma característica comum à UE — é entre a elite profissional que mais falha a conciliação com o mundo para lá do trabalho.

É uma característica que tende a acentuar-se com as novas tecnologias de informação e comunicação (NTIC), as quais esbateram já fronteiras entre o tempo no trabalho e o tempo fora dele. Para quem as utiliza como rotina diária, sair do local de trabalho não significa, necessariamente, que a jornada laboral chegou ao fim. É entre os que trabalham mais horas e exercem cargos de responsabilidade que se encontra a maioria dos que se mantêm profissionalmente conectados fora de horas.

Esta invasão da vida privada pelo trabalho é, assim, uma experiência minoritária. Aliás, na UE, são ainda cerca de 64 por cento os que dizem nunca utilizar no trabalho (ou quase nunca) a Internet ou o correio electrónico. Envolvendo apenas entre dois a quatro por cento dos trabalhadores da UE, também o teletrabalho continua a ser um fenómeno marginal.

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Diferença homens - mulheres

Uma outra fronteira na conciliação entre trabalho-vida privada é a do género. E a tendência é para que os homens se declarem mais insatisfeitos do que as mulheres.

Em geral, os homens estão mais tempo no emprego, e tendem a ter horários mais longos fora de casa, à medida que crescem as responsabilidades familiares. No geral, entre os 20 e os 49 anos, a taxa de emprego entre as mulheres baixa 15 pontos quando têm um filho (em Portugal, sobe dois pontos) e a dos homens aumenta seis. É uma das razões que explica o facto de existirem mais homens (principalmente aqueles que são pais) do que mulheres insatisfeitos quanto à conciliação entre trabalho e vida privada. Mas esta disparidade deve-se também às mudanças registadas nas famílias e nas atitudes perante esta. Dos homens, espera-se agora, também, que sejam pais (e companheiros) presentes; mas, em contradição com esta tendência, a atitude face ao trabalho e as características do mercado continuam a valorizar o emprego masculino em detrimento do feminino.

Como as mulheres, trabalhando ou não fora de casa, tendem a assumir grande parte das tarefas domésticas, a menor insatisfação, entre elas, no que respeita à conciliação entre trabalho e vida privada deriva deste modus operandi .

Ao contrário da norma europeia, e devido, sobretudo, a constrangimentos económicos, a maternidade tem pouco impacto na taxa de emprego das mulheres portuguesas, que é uma das mais altas da UE (cerca de cinco pontos mais do que a média europeia). Em Portugal, estão no mercado do trabalho 76,6 por cento das mães com um filho menor de 15 anos, e 60,3 por cento das mães com três ou mais filhos menores de 15 anos.

Devido, em parte, a esta elevada presença no mercado de trabalho (mas também a uma mais incipiente rede de cuidados primários e a uma menor partilha de tarefas domésticas — em média, as portuguesas gastam mais tempo com estas do que as suas congéneres europeias), as mulheres portuguesas ultrapassam os homens na percepção de uma má conciliação entre o trabalho e a vida privada. Esta “particularidade” é partilhada pelas mulheres eslovenas, espanholas e turcas.

No âmbito do Internacional Social Survey Programme foi também possível identificar que são as mulheres portuguesas (82 por cento) quem mais declara não ter tempo “para fazer tudo”. Em segundo lugar, mas a quase 20 pontos de distância, estão as inglesas (66 por cento). São também as mulheres portuguesas (51 por cento) que se sentem mais tensas em casa. Seguem-se a checas (48 por cento). E são os homens portuguesas (83 por cento) que, mais declararam ter “muito para fazer” no trabalho. A uma respeitável distância, seguem-se os alemães (61 por cento).

Apesar de tudo isto, em 2005, 83,7 por cento dos pais (homens e mulheres) portugueses empregados revelaram que não desejam alterar a organização da sua vida profissional. Por sexo, esta vontade de não mudar foi subscrita por 77,6 por cento de mulheres e 89,7 de homens. No conjunto, apenas 13,4 por cento manifestaram desejo de trabalhar menos, de modo a poderem dedicar mais tempo à prestação de cuidados no âmbito da família.

Sendo a capacidade para dispor do tempo uma das tarefas mais complicadas da vida activa actual, são significativos os constrangimentos mais em voga entre os europeus: 45 por cento admitem ter pouco tempo para acções de voluntariado; 43 por cento queixam-se de ter pouco tempo para os seus hobbies ; 33 por cento têm pouco tempo para contactos sociais; 26 por cento têm pouco tempo para dormir; e, finalmente, 25 por cento admitem ter pouco tempo para a família.

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* Clara Viana

Jornalista do PÚBLICO.

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Fontes

Fourth European Working Conditions Survey (2005).

First European Quality of Life Survey (EQLS; 2003).

International Social Survey Programme ( Family and Gender Survey).

Eurostat.

INE.

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Dados adicionais
Gráficos / Tabelas / Imagens / Infografia / Mapas
(clique nos links disponíveis)

Link em nova janela Trabalhadores com 48 horas ou mais por semana (%)

Link em nova janela Trabalhadores que têm dificuldades em conciliar trabalho e vida familiar várias vezes por semana, por país (%)

Link em nova janela Boa ou muito boa conciliação entre horas de trabalho e compromissos familiares / sociais (%)

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