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O crescimento e a internacionalização da economia

Manuel Farto e Raquel Ferreira *

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A internacionalização da economia é geralmente considerada como uma condição indispensável para a obtenção de um ritmo elevado e sustentado de crescimento económico. O presente texto tem como objectivo situar este resultado, hoje bem estabelecido, no contexto da economia portuguesa, precisando a relação entre o crescimento económico português e o grau de internacionalização da economia, aqui simplesmente interpretado como grau de abertura ao exterior, comparativamente a um conjunto de países discricionariamente tomados como referência, numa perspectiva de “estudo de caso”.

Tomou-se para o efeito um conjunto de países, definido pelos países europeus da convergência e duas referências não europeias mas que de alguma forma constituem exemplos na evolução económica recente como sejam o Chile, no continente americano, e a Coreia do Sul, no continente asiático. O período escolhido foi o período mais recente, de1990 a 2002.

 

O crescimento e as exportações

A observação da taxa média anual de crescimento do produto interno bruto deste conjunto de países para o período referido, leva-nos a constituir dois grupos: o grupo I, de forte crescimento, formado pelo Chile, Coreia do Sul e Irlanda, que registaram respectivamente taxas de 5,8%, 5,9% e 7,1%, e o grupo II, de crescimento modesto, constituído pelos restantes países, com taxas próximas de 2,5%. No primeiro grupo há ainda a notar a firmeza do crescimento irlandês, a notável recuperação levada a cabo pela Coreia do Sul após a crise asiática e a tendência declinante do Chile, que parece tender a passar do primeiro para o segundo grupo no fim do período em análise. Esta tendência, bem como a recuperação coreana à crise asiática, podem observar-se na figura. O grupo II é muito homogéneo relativamente ao crescimento, com taxas médias anuais de 2,5% para Portugal, e de 2,6% para a Grécia e Espanha.

O grupo de três países de crescimento elevado regista uma forte abertura ao exterior, com a Irlanda prosseguindo o seu poderoso movimento de abertura que já era elevado (0,92 em 1990 e 1,07 em 2000), secundada pela Coreia do Sul (que passa de 0,51 em 90 para 0,62 em 2000), enquanto o Chile vê o seu grau de abertura elevar-se apenas ligeiramente (de 0,48 para 0,50). É possível que esta menor dinâmica tenha uma relação próxima com o menor desempenho da economia chilena no fim do período.

Em relação ao grupo II, constituído pelos países de fraco crescimento, a situação é mais díspar, tanto na situação de partida como na dinâmica verificada no período. Destes, Portugal possui um grau elevado de abertura ao exterior que se mantém ao longo do período (0,56 e 0,55 respectivamente) embora conjunturalmente prejudicado pela quebra da actividade económica de 2002. A Espanha parte de uma situação baixa (0, 27 em 1999) elevando-se fortemente (0,44 em 2002), o que indicia a criação neste período de uma nova relação deste país com o exterior. A Grécia mantém-se num nível de 0,32, que poderíamos considerar muito fraco para a Europa e para a dimensão do país e sem apresentar no período qualquer dinâmica de crescimento. O crescimento médio anual das exportações da Irlanda (11,5%), Coreia do Sul (7,6%) e Chile (6,4%) indiciam uma importante responsabilidade da procura externa no crescimento do produto destes países. A situação é, uma vez mais, divergente no grupo II, onde Portugal e a Grécia, com crescimentos de 3,9% e 2% respectivamente, estão na linha dos fracos crescimentos realizados.

A Espanha, por seu lado, constitui o caso verdadeiramente particular, dado que, apesar de uma taxa média anual de crescimento das exportações elevada (7%), não consegue ultrapassar resultados modestos em termos de criação de riqueza. Tal parece indiciar que este país, apesar da importante modernização do seu aparelho produtivo, permanece fortemente ligado a sectores tradicionais, embora procedendo a operações modernizadoras em larga escala, designadamente produtos agrícolas e têxteis (único dos seis países que aumenta o valor das suas exportações têxteis).

 

A alteração na estrutura das exportações

A tabela permite comparar os seis mais importantes grupos de produtos exportados entre 1990 e 2002 para o conjunto dos seis países. No grupo I, de países de crescimento elevado, a Irlanda e a Coreia do Norte registam importantes alterações na sua estrutura exportadora. Na Irlanda é detectável uma tendência à especialização, expressa no facto de os seis produtos mais importantes representarem em 2002 cerca de 72% do total exportado, enquanto em 1990 apenas representava 48%, concentrando-se especialmente em três tipos de produtos: o equipamento para computadores, que se afirma, representando agora 21%; a química orgânica, que progride ainda mais, alcançando os 20%; e os produtos farmacêuticos, que nem sequer se encontravam entre os seis mais importantes produtos em 1990.

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As alterações estruturais na Coreia do Sul são igualmente profundas, de tal modo que, para além de um aumento da concentração exportadora nos seis principais produtos, que passou de 44% para 50% no período em análise, quatro tipos de produtos foram substituídos por outros tantos. Os equipamentos de telecomunicações e os equipamentos para computadores, que não integravam os seis mais importantes produtos, alcançam agora igualmente 10%.

A estrutura das exportações chilenas, ao contrário dos outros dois países, permaneceu estável no essencial, com a concentração das exportações a manter-se elevada (68%). Esta persiste apesar da redução do peso dos metais não ferrosos (em especial do cobre), que passou de 36% para 25%. No período em questão, apenas um novo produto, o papel, apareceu no ranking, substituindo a alimentação animal, o que indicia que, apesar da importante abertura ao exterior, a economia chilena não apresenta factores de crescimento sustentado.

Entre os países de crescimento modesto, Portugal é provavelmente o que regista mais profundas alterações na estrutura do seu comércio externo, com forte queda dos sectores tradicionais e afirmação da produção de veículos automóveis, aparelhos eléctricos e hardware, representando estes três tipos de produtos 22% das exportações, embora sem uma estrutura de especialização claramente definida. Pelas características das mudanças realizadas a favor de sectores com mais capacidade de criar valor acrescentado é de admitir que o ritmo de crescimento atingido, não sendo notável, é pelo menos susceptível de ser mantido no futuro. A Espanha registou alterações estruturais substanciais, embora mantendo a concentração das exportações a um nível relativamente baixo (36%). Os automóveis e componentes constituem 20% do total exportado.

Finalmente, a Grécia viu reduzir-se a concentração das exportações, representando os seis melhores produtos apenas 42% contra 48% em 1990, não se verificando, todavia, alterações estruturais significativas.

 

O IDE e o crescimento económico

Se tomarmos os fluxos do IDE em volume, a Espanha e a Irlanda destacam-se claramente de todos os outros. Segue-se a grande distância Portugal; mais atrás, igualmente a grande distância, a Coreia do Sul e Chile e finalmente com níveis verdadeiramente modestos, a Grécia. É claro que, dada a dimensão da Espanha e da Coreia do Sul, a importância dos seus fluxos sai consideravelmente minimizada em termos relativos. Com efeito, em relação ao grupo I, se tomarmos o stock do IDE em percentagem do PIB, verificamos que a Irlanda atinge cerca de 134% em 2002, valor que de resto não é inédito (tendo já sido ultrapassado em 2001 e mesmo na década de 80), o Chile aproxima-se dos 70%, enquanto a modestíssima posição da Coreia do Sul (9,5%) relativamente ao IDE aparece como uma excepção à forte tendência à abertura aos mercados internacionais de capital.

Em relação ao grupo II, Portugal e Espanha detêm um comportamento semelhante e intermédio (30% e 28% respectivamente), enquanto a Grécia se situa em cerca de 10%. A contribuição do IDE para a formação de capital segue um padrão semelhante. Em média, para o período 1990-2002, o IDE contribui na Irlanda com 34% (passando no período 1997-2002 para 66%), seguindo-se o Chile à distância com 20,6% e 28,1% para aqueles dois períodos. Na Coreia do Sul, por seu lado, o papel do IDE na FBCF é pouco mais que simbólico, embora com tendência a crescer, tendo registado para aqueles dois períodos respectivamente 2,5 e 4,6%.

No grupo II afirma-se igualmente o padrão já referido, com os países ibéricos a registarem valores médios de cerca de 11% e 14% respectivamente para aqueles dois períodos. A Grécia é uma vez mais a excepção neste grupo, afirmando-se inclusivamente uma tendência decrescente de 4,9% para 2,8%.

 

Crescimento económico e abertura ao exterior

Se é difícil estabelecer uma relação directa entre grau de abertura e crescimento económico, a análise dos seis casos permite claramente observar uma evidente distinção entre o grupo I, de países de crescimento económico elevado com um igualmente elevado grau de abertura ao exterior, e o grupo II, de países de crescimento económico moderado e menor grau de abertura. Vale a pena igualmente registar algumas especificidades dentro de cada um dos grupos. A Irlanda observa um crescimento económico de tipo globalizado no sentido em que um forte e estável crescimento está associado simultaneamente a uma forte e crescente tendência exportadora e a uma muito forte e no mínimo estável participação do IDE na economia irlandesa. A Coreia do Sul regista um tipo de comportamento económico que poderíamos considerar de exportador, na medida em que o seu crescimento forte e sustentado se apoia prioritariamente numa forte e crescente tendência exportadora sem significativo relevo para o capital internacional.

O forte crescimento económico do Chile parece ter assentado em factores tradicionais, baseado numa forte componente exportadora apoiada num forte fluxo do IDE. No grupo II, Portugal e Espanha parecem desenvolver um crescimento moderado (talvez mais sustentado em Espanha) apoiado em níveis médios de exportações e de IDE, enquanto a Grécia parece basear o seu crescimento igualmente moderado numa estrutura económica autocentrada.

Fica patente que a abertura ao exterior não é uma panaceia para o crescimento económico, como mostra a queda do Chile, apesar do aumento do seu grau de abertura. Mas fica igualmente claro que, nos restantes países, um forte crescimento económico está associado a uma mais elevada abertura ao exterior, tanto pelo fortalecimento das exportações como pelo aumento da atractibilidade do IDE. Em particular, para países de dimensão mais reduzida, esta afirmação possui um significado ainda mais profundo, constituindo-se o desafio da globalização como o único caminho possível para o progresso económico e social.

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* Manuel Farto

Licenciado em Economia pelo ISEG. Doutorado em Economia pela Universidade de Paris-X. Docente no ISEG. Docente visitante da Universidade de Orléans (França) e da Universidade Federal da Paraíba (Brasil). Subdirector do Observatório de Relações Exteriores da UAL.

Raquel Ferreira

Mestre em Economia Monetária e Financeira. Economista.

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