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Janus 2006



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Conjuntura económica internacional

Manuel Farto e Henrique Morais *

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Os indicadores divulgados até ao momento, referentes ao 1º semestre de 2005 (1), confirmaram, no essencial, as indicações presentes ao longo de todo o ano de 2004, isto é, a continuação do processo de recuperação económica à escala mundial. Deste modo, é muito provável que a economia mundial cresça, em 2005, próximo dos 4,3% previstos pelo Fundo Monetário Internacional em Abril do corrente ano e que, em conjunto, as economias avançadas possam vir a evidenciar um crescimento médio do produto interno bruto (PIB) na ordem dos 2,5% - 2,6%.

Estes dados, embora configurem algum abrandamento face ao observado no ano de 2004, situam-se claramente acima do que se registou, em média, desde meados da década de 80 e, no geral, exprimem ritmos de crescimento económico sólidos e acima do respectivo potencial. Este facto é bastante auspicioso para a evolução próxima da economia mundial, tendo em conta que o ano de 2005 foi marcado por uma maior restritividade das políticas monetárias (por exemplo, nos EUA,, em que as taxas de juro oficiais subiram 1,5 pontos percentuais) e por uma escalada do preço do petróleo sem precedentes nas últimas décadas que, fora do contexto actual da globalização e das pressões que esta induz para a contracção dos preços, teria certamente como efeito final a entrada em recessão da economia mundial.

A tudo isto é de acrescentar uma intensidade anormalmente elevada de fenómenos naturais adversos, e que nalguns casos contribuíram para ampliar o “choque petrolífero” e para atenuar o nível de confiança dos agentes económicos, de que o destaque maior cabe naturalmente aos recentes acontecimentos em Nova Orleães, associados ao furacão Katrina.

 

Bolsa treme mas não cai e petróleo em alta...

A evolução do mercado accionista nos últimos 15 anos pode ser rapidamente sintetizada em três períodos distintos: uma primeira fase, na década de 90, de euforia, em que o Dow Jones Industrial (DJI) e o Nasdaq, ambos índices de referência para o mercado norte-americano, se valorizaram em termos médios anuais, 15,4% e 24,5%, respectivamente, enquanto o Dow Jones Euro Stoxx (área do euro) subiu, em média, 13,3% ao ano; um segundo período, a antecipar um ciclo de crescimento económico pouco favorável, entre 2000 e 2002, com forte correcção dos principais índices accionistas mundiais (o Nasdaq, por exemplo, perdeu cerca de 62% do seu valor, entre Janeiro de 2000 e finais de Dezembro de 2002); e, finalmente, uma terceira fase, iniciada em 2003 e caracterizada por novo impulso altista dos índices accionistas, mais acentuado nesse ano, mais ténue em 2004.

O comportamento do mercado accionista ao longo dos últimos meses tem sido particularmente interessante. Se, por um lado, a economia mundial continua dinâmica e não se vislumbram motivações consistentes para se antecipar uma retracção significativa no futuro próximo, por outro, a trajectória de subida das taxas de juro oficiais em economias como a norte-americana, a manutenção de elevada incerteza nalguns dos principais palcos de conflito geopolítico (Iraque, Irão e Palestina) e, sobretudo, o fortíssimo aumento do preço do petróleo em 2004/2005, deixavam antever a possibilidade de uma descida dos preços das acções, quer por efeito directo nos resultados das empresas (subida das taxas de juro e do preço do petróleo), quer ainda por alguma deterioração da confiança dos consumidores.

Acontece que a realidade não foi exactamente essa. Seja porque as empresas foram capazes de acomodar o aumento dos custos energéticos, reduzindo as margens, ou porque não “sofreram” directamente os efeitos das subidas das taxas de juro oficiais (2) , dado que, em rigor, as taxas de juro mais longas pouco ou nada aumentaram, ou ainda porque os consumidores se revelaram pouco sensíveis aos conflitos no Médio Oriente, a realidade dos números é algo distinta do que seria de supor: o índice referenciado para a área do euro subiu, em 2005 (3) , cerca de 14%, o Nikkei japonês ampliou os ganhos registados nos últimos dois anos e está a valorizar, em 2005, cerca de 7% (nos máximos dos últimos 4 anos), embora ainda muito longe dos níveis atingidos nos anos 80 (4) e, finalmente, as descidas dos índices norte-americanos são marginais (DJI: -2,1% e Nasdaq: -1,4%).

Quanto ao preço do petróleo, a sua trajectória de subida parece imparável: em finais de Setembro de 2005, o Dated Brent (petróleo de referência para as importações portuguesas, e da Europa em geral) cotava-se próximo de 63 dólares norte-americanos. O ano de 2005 está a ser particularmente complicado para a área do euro, no que diz respeito à factura petrolífera, porque se acumulam os efeitos da subida do preço do ouro negro, com a depreciação do euro em relação ao dólar. Deste modo, um barril de petróleo custava, em finais de 2004, cerca de 29,2 euros, estando actualmente próximo dos 52,5 euros; isto é, ocorreu uma subida real dos preços de 80%!

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... mas taxas de juro de longo prazo continuam baixas!

É facilmente imaginável o que poderia acontecer a um economista que, por exemplo em 1990, ousasse prever a possibilidade, ainda que num futuro algo longínquo, de coexistirem taxas de rendibilidade de títulos de dívida pública norte-americana a 10 anos próximas de 4%, com níveis de inflação na ordem dos 2,7%, preços do petróleo acima de 60 dólares por barril e um crescimento económico próximo dos 4%. A verdade é que este cenário, absolutamente inimaginável naquela época (5) , não só é hoje uma realidade, como não é exclusivo dos EUA, tendo alastrado para a esmagadora maioria das economias mais avançadas e começado a ganhar contornos de permanência.

Muitas explicações se têm avançado para esta teimosa persistência das taxas de rendibilidade a níveis anormalmente baixos, desde as mais simplistas (e discutíveis), designadamente a inexistência de pressões inflacionistas e a capacidade actual das empresas em acomodar a subida de alguns custos de produção (nomeadamente a energia), até às mais complexas, de que destacaríamos os supostos efeitos da globalização na criação de uma massa crítica de produtores a baixo custo, que tornariam inexorável a diminuição dos preços dos bens e criariam um clima propício a baixas taxas de inflação e de juro.

Sendo todas estas explicações aceitáveis, parece-nos todavia pouco provável que possamos imaginar a existência de uma espécie de “tecto” de referência para os níveis das taxas de rendibilidade neste mundo globalizado, e muito menos que esse tecto se situe próximo dos níveis actuais (4 - 4,5%, para os títulos a 10 anos).

Deste modo, quando se esgotar a capacidade, ou a apetência, dos investidores asiáticos, sobretudo institucionais, pela dívida pública (especialmente dos EUA) e quando o aumento dos preços surgir como o corolário normal de economias “sobreaquecidas” e em que desapareceu o excesso de capacidade produtiva que as tem caracterizado nos últimos anos, então corremos o risco de voltar a assistir a um aumento mais substancial das taxas de rendibilidade, em prejuízo da generalidade dos agentes económicos.

É um risco que não deve ser ignorado, ainda que dificilmente se imagine, pelos factores expostos, o retorno das taxas de rendibilidade nos principais mercados a níveis de dois dígitos, ou mesmo algo próximo.

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1 De notar que este dado é substancialmente diferente do avançado pelo FMI em Abril de 2005 (2%), o qual deverá ser entretanto corrigido pelo Fundo, tendo em conta os dados finais das contas nacionais da área do euro.
2 Referimo-nos, em especial, às empresas norte-americanas, dado que as europeias não sofreram qualquer impacto decorrente de alterações da política monetária (caso da área do euro) ou, se sofreram, foi marginal (caso do Reino Unido, em que depois de um ciclo algo ténue de subida das taxas de juro oficiais, estas voltaram já a descer).
3 Dados de 18 de Agosto de 2005.
4 Em finais de 1989, o Nikkei cotava-se a cerca de 38 916 pontos. Em 18 de Agosto de 2005, este índice estava cotado a 12.307 pontos.
5 A título meramente ilustrativo, em 1997, a economia norte-americana cresceu 4,5%, a inflação estava em 2,3% e as taxas de rendibilidade da dívida pública a 10 anos rondavam os 6,5%. Mais significativo ainda, em 1985, as taxas de rendibilidade chegaram a situar-se acima de 9%, com um crescimento do PIB idêntico ao actual e inflação ligeiramente superior – cerca de 3,5%, que compara com os actuais 2,7%


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* Manuel Farto

Licenciado em Economia pelo ISEG. Doutorado em Economia pela Universidade de Paris-X. Docente no ISEG. Docente visitante da Universidade de Orléans (França) e da Universidade Federal da Paraíba (Brasil). Subdirector do Observatório de Relações Exteriores da UAL.

* Henrique Morais

Licenciado em Economia pelo Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG). Mestre em Economia Internacional pelo ISEG. Docente na UAL e na Universidade do Algarve. Assessor do Banco de Portugal. Membro do Conselho Directivo do Observatório das Relações Exteriores da UAL.

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