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Economia mundial: a conjuntura estará a mudar?

Henrique Morais *

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Nas actas do Federal Open Market Committee , referentes à reunião de 29 de Junho de 2006, em que, pela décima sétima vez consecutiva, a Reserva Federal norte-americana aumentou as taxas de juro oficiais em 25 p.b., para 5,25%, numa trajectória ascendente iniciada em Julho de 2004, momento em que as taxas de juro se quedavam em 1%, pode ler-se: “ Recent indicators suggest that economic growth is moderating from its quite strong pace earlier this year, partly reflecting a gradual cooling of the housing market and the lagged effects of increases in interest rates and energy prices... ”.

Independentemente do que vier a seguir, duas conclusões são, no imediato, inevitáveis.

Em primeiro lugar, as autoridades norte-americanas souberam novamente utilizar a política monetária de uma forma terrivelmente eficaz, e em contraciclo, isto é, descendo as taxas de juro quando a fraqueza do crescimento económico indiciava a possibilidade de os EUA virem a “mergulhar” numa recessão praticamente anunciada, mas sendo igualmente firmes no passado mais recente, quando a aceleração do crescimento económico deixava antever riscos inflacionistas e exigia subidas intensas das taxas directoras.

Uma segunda conclusão é de que a economia norte-americana está provavelmente à beira de iniciar um novo ciclo. Os receios da Reserva Federal quanto ao crescimento são absolutamente justificados, e partilhados por diversas entidades. Já em Abril do corrente ano, o Fundo Monetário Internacional, no seu World Economic Outlook , previa uma desaceleração do crescimento económico para 3,4% em 2006 e 3,3% em 2007, que compara com os 4,2% observados em 2004 e os 3,5% de 2005. Estes dados eram ainda relativamente prudentes e, além disso, desde que o FMI publicou as suas previsões macroeconómicas, os sinais, embora ainda apontem para um cenário de forte crescimento, evidenciaram já algum abrandamento, designadamente a nível dos indicadores de actividade, quer nos serviços, quer na indústria. Grandes bancos de investimento como a JP Morgan ou a Lehman Brothers, por exemplo, incorporam previsões bastante menos optimistas: o primeiro perspectiva que o crescimento do PIB possa abrandar para 2,9%, em 2007 (1), enquanto a Lehman prevê 2,8% (2).

Este enquadramento agrava-se se tivermos ainda presente a evolução dos preços internacionais das matérias-primas, designadamente a forte subida do preço do petróleo e o impacto desse aumento nos custos das empresas. Embora até ao momento as empresas tenham conseguido acomodar esse acréscimo, reduzindo as respectivas margens, o processo começa a dar sinais de esgotamento e indicia a mais do que provável “passagem” dos custos para o consumidor final, isto é, o aumento da inflação. Não é portanto de excluir que os próximos anos marquem um período de significativo abrandamento da economia norte-americana.

 

A Europa titubeante...

Na Europa, e em especial na área do euro, o cenário continua a ser bastante nebuloso, num contexto em que a timidez da política monetária, o espartilho orçamental colocado por um Pacto de Estabilidade e Crescimento semi moribundo e a ausência de uma série de reformas estruturais na maioria das economias europeias inviabilizou que a área do euro tivesse acompanhado a locomotiva norte-americana quando esta viu acelerar o respectivo ritmo de crescimento económico.

Em 2006 antecipa-se uma aceleração do crescimento do PIB na área do euro para cerca de 2% (de acordo, aliás, com a previsão de Abril do FMI), com a economia europeia a beneficiar de um enquadramento macroeconómico global ainda favorável, da depreciação do euro em termos efectivos, da melhoria dos resultados das empresas europeias e de alguma retoma da economia alemã, contrariando vaticínios que apontavam para um período mais conturbado, na sequência dos resultados das recentes eleições germânicas.

Embora exista presentemente alguma divergência em relação à evolução próxima da economia da área do euro, consideramos que os riscos continuam a estar enviesados no sentido de um novo abrandamento do crescimento económico na área do euro. Esta convicção é alicerçada essencialmente em três factores: em primeiro ligar, nos efeitos colaterais de uma conjuntura internacional que se prevê em abrandamento e que, embora de forma limitada, dada a reduzida abertura da economia europeia ao comércio internacional, deve ter igualmente impacto na área do euro. Em segundo lugar, tudo indica que a manutenção dos preços elevados da energia vai continuar a pressionar os indicadores de preços no consumidor e, deste modo, exigir políticas monetárias menos acomodatícias, isto é, novas subidas das taxas de juro oficiais na área do euro (3). Por último, no actual contexto de aparente avanço inexorável da globalização e dos seus mecanismos, a economia europeia parece claramente, de entre o grupo restrito das economias avançadas, aquela que mais “exposta” está presentemente ao avanço imparável de uma Ásia em progressiva afirmação competitiva.

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... e a Ásia vigorosa!

Perante este enquadramento, os dados das economias emergentes, em especial, da Ásia continuam a ser verdadeiramente impressionantes. Socorrendo-nos novamente das previsões do FMI, verifica-se que, no período de 1988 a 1997, as economias emergentes cresceram 4,1% (2,9% nas economias avançadas), enquanto nos dez anos seguintes (1998-2007) o crescimento médio daquelas economias deverá aumentar para 5,8% (e nas economias avançadas registar-se-á um abrandamento para 2,6%). Os dados são ainda mais expressivos se olharmos para a Ásia em desenvolvimento (grupo que integra, entre outros, a China e a Índia), em que nos dois períodos analisados o crescimento do PIB foi de 7,9% e 7,3% (com a China a crescer 9,9% e 8,9%, enquanto a Índia revelou uns mais “modestos” 5,9% e 6,5%).

Em edições anteriores da nossa publicação, em especial no Janus 2006, já foi amplamente analisado este tema da Ásia e da sua crescente importância económica. Resta-nos agora apenas concluir algo que seria impensável aquando da nossa primeira edição, em 1997: dada a dimensão entretanto adquirida pelas economias da Ásia emergente (ainda recentemente o Banco Mundial veio dizer que a China é agora a 4.ª maior economia mundial), e atendendo aos cenários traçados para as economias europeia e norte-americana, não será improvável que nos próximos anos o motor do crescimento económico mundial possa situar-se algures no sudeste asiático.

 

E os mercados?

No mercado accionista, o ano foi, até ao momento, caracterizado por dois períodos em que as bolsas de valores evoluíram de forma distinta. Durante o 1.º trimestre de 2006, assistiu-se a um prolongamento do movimento de expressiva subida dos principais índices de acções a que se assistiu nos últimos anos, perante os dados económicos e empresariais favoráveis que foram sendo divulgados. A título exemplificativo, o índice de referência Euro Stoxx para a área do euro valorizou, nesse período, 10%, o Nikkei acumulou ganhos de aproximadamente 8% e mesmo o Standard & Poor's valorizava-se então cerca de 4%.

Posteriormente, o mercado começou a dar sinais de alguma correcção, condicionado pela instabilidade geopolítica, pela subida dos preços da energia e pela convicção dos operadores de que algumas acções poderiam estar sobrevalorizadas.

O que parecia um período normal de correcção da bolsa transformou-se num “susto” para os investidores a partir de meados de Maio, num contexto em que aos factores atrás expostos se juntou um significativo aumento da aversão ao risco por parte dos investidores.

O comportamento do segmento obrigacionista esteve igualmente muito associado à evolução dos indicadores de preços e às expectativas inflacionistas, que acabaram por se traduzir num forte acréscimo das taxas de rendibilidade da dívida pública na maioria das economias.

Perante o quadro descrito, a incógnita parece estar em saber de que forma os mercados irão reagir à eventual materialização de um cenário de abrandamento económico. Aumentarão, nesse contexto, os indicadores de aversão ao risco, penalizando o segmento accionista em detrimento do mercado da dívida pública? Ou, pelo contrário, a expectativa de que a desaceleração do crescimento económico possa limitar os acréscimos dos preços gerará um novo fôlego para as acções e, em contrapartida, penalizará as aplicações em activos de menor risco?

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1 - Cf. do Global Data Watch , de 30 de Junho.
2 - Cf. do Global Weekly Economic Monitor , de 30 de Junho.
3 - Os indicadores disponíveis indiciam que o BCE poderá, até ao final do ano, aumentar novamente as taxas de juro, eventualmente para 3,25% ou mesmo 3,5%.

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* Henrique Morais

Licenciado em Economia pelo Instituto Superior de Economia e Gestão. Mestre em Economia Internacional pelo ISEG. Docente na Universidade Autónoma de Lisboa e na Universidade do Algarve. Assessor do Banco de Portugal. Membro do Conselho Directivo do Observatório das Relações Exteriores da UAL.

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