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- JANUS 2009 -



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Brasil, potência emergente do século XXI

Pedro Pinto *

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Dos BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China – é habitual dizer-se que vão ser as economias dominantes nos próximos 50 anos. Até lá, mostram argumentos: para começar, o forte crescimento da última década deverá manter-se, apesar das nuvens negras que pairam sobre a economia mundial provocadas pela crise do subprime nos Estados Unidos, em rápido contágio além fronteiras.

Um crescimento sólido suportado maioritariamente pela elevada procura de matérias-primas, algo em que todos são ricos, e um forte estímulo ao nível do consumo interno: a emergência de uma classe média ávida de consumo e de melhores padrões de vida tem gerado um impulso decisivo na perfomance dos quatro mosqueteiros da Economia Mundial.

Como grande colosso da América Latina, o Brasil deverá continuar a recolher os frutos das reformas económicas dos últimos anos. A economia brasileira é uma forte candidata a transformar-se numa das maiores do Mundo, uma aposta reforçada com as sucessivas descobertas de grandes jazidas petrolíferas ao largo da sua costa e o grande investimento nos mercados accionistas brasileiros, com valorizações superiores a 150 por cento nos últimos três anos.

A degradação da conjuntura internacional, com a expansão global a perder força por culpa do abrandamento das economias avançadas, não vai impedir o Brasil de se assumir como uma das potências emergentes, embora agora com perspectivas de crescimento revistas em baixa para este e próximo ano e uma maior pressão ao nível dos preços, o que vai obrigar a cuidados redobrados.

Curiosamente, têm sido as economias emergentes e em desenvolvimento as que menos têm sido afectadas pela turbulência dos mercados financeiros, continuando a crescer a um ritmo rápido. Esta realidade contrasta com a do passado, especificamente no caso do Brasil, marcado por frequentes e violentos golpes no panorama económico sempre que a conjuntura internacional muda repentinamente.

Exemplos disso, as crises vividas no último semestre de 1997 – que quase traçou o fim do Mercosul – e em menor escala os problemas registados em 2001 e 2002, com o Brasil a conseguir atenuar parte das consequências do desastre financeiro argentino e a enorme desvalorização do Peso, o que é uma prova de uma postura e dinâmica mais sólidas.

 

Dados promissores, ao lado da crise

Uma análise ao quadro das importações e das exportações revela que a economia brasileira tem no material de equipamento de transportes e acessórios a sua maior fatia das exportações, seguido dos produtos metalúrgicos e só depois dos produtos agrícolas. Os Estados Unidos e a Argentina são os seus principais parceiros comerciais, com o primeiro país europeu – a Alemanha, neste caso – a surgir apenas na quarta posição.

A economia norte-americana é também a principal exportadora para o mercado brasileiro, seguida da China e da Argentina, com maquinaria e material eléctrico a dominarem os primeiros lugares da pauta da importação, tal como uma certa predominância do continente americano neste capítulo.

A trajectória de afirmação e consolidação económica do Brasil no panorama internacional teve mais um indicador positivo no ano de 2008 com o governo brasileiro a anunciar uma melhoria do seu superavit fiscal de 3,8 para 4,3 %, apesar das pressões da inflação se terem mantido fortes em Maio e Junho, com perspectivas de reincidência até ao final do ano.

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A melhoria da posição da economia brasileira em matéria de risco de investimento, uma realidade assumida pelas principais agências internacionais de rating de crédito, é também uma prova da confiança nas reformas levadas a cabo ao longo dos últimos anos, sobretudo depois dos tempos de enorme desconfiança que se seguiram à política de desvalorização do Real, decretada em 1997. Contudo, essa vulnerabilidade externa, em tempos largamente demonstrada, encontra-se nesta altura significativamente reduzida.

Uma resultado que muito fica a dever à política de cautela seguida pelo Banco Central, que recusou uma baixa de juros drástica em tempo de alguma largueza financeira, acumulando importantes reservas de moeda estrangeira e controlando os ímpetos inflacionistas. O anúncio feito em Fevereiro deste ano de que o Brasil passou
a ser um credor líquido é mais uma prova do bom caminho efectuado, que rompe com um passado marcado por uma fraca imagem nesse plano.

É também no Brasil, entre todas as economias do BRIC, que o mercado de capitais mais tem resistido: a Bovespa – o índice bolsista brasileiro mais importante – manteve até ao último trimestre do ano de 2008 uma tendência crescente, ao contrário do que se passou com as Bolsas da Rússia, da China e da Índia.

O actual vigor da economia brasileira continua a ser suportado por uma forte procura doméstica, traduzido num forte consumo interno, o que ajudou a acelerar o crescimento económico do país para 5,6% no ano de 2007, contra os 3,6% do ano anterior. Mais difícil de controlar apresenta-se a trajectória da inflação, com a excessiva procura a fazer disparar os preços. Todas as previsões apontam para uma derrapagem das estimativas apresentadas pelo Banco Central, com a subida geral dos preços a ultrapassar os 4,5% inicialmente projectados.

O Brasil conta ainda que a manutenção de elevados investimentos internacionais permita a apreciação do Real, à imagem do que tem acontecido nos últimos anos, contribuindo assim de forma preciosa para o amainar das pressões inflacionistas por via das importações mais baratas. Apesar de uma ligeira descida relativamente a 2007, o IDE volta a ter um papel decisivo no relançamento da economia brasileira, com os valores a duplicarem relativamente aos últimos três anos, um incremento a que não é alheio a boa evolução bolsista registada. Em 2007, o IDE representou cerca de 3% do PIB.

Sem surpresas, a economia brasileira manteve uma crescente e sólida inserção na rede do comércio mundial: o valor das importações subiu praticamente quatro vezes nos últimos seis anos, enquanto o valor das exportações mais do que triplicou. Ainda assim, apesar deste desempenho, a balança de Transacções Correntes ronda os valores negativos, o que já não acontecia desde 2002.

O crescimento do produto vai situar-se nos 4,9%, em 2008, com a inflação a subir impulsionada pelo preço dos alimentos e da procura interna, e a quebrar com uma trajectória acentuada de descida verificada ao longo dos últimos quatro anos, onde chegou a estar próxima dos 15%.

Em comparação com outros espaços do Mundo, a economia brasileira vai crescer em linha com a média alcançada pelas congéneres da América do Sul e claramente acima das economias avançadas, tanto em 2008 como em 2009. Um resultado que apenas fica a perder para as chamadas economias emergentes. Estes dois grupos são responsáveis por uma parte decisiva do crescimento estimado para a economia mundial, tanto neste como no próximo ano.

 

Tendências futuras

O Brasil tem alcançado um forte crescimento nos últimos anos, com baixos níveis de inflação. Um quadro invejável que reflecte uma contínua melhoria das suas políticas económicas, a par de um favorável enquadramento internacional. O actual momento é também um desafio à solidez entretanto alcançada. Aliás, os primeiros sinais indicam que o Brasil está em muito melhor posição do que em anos anteriores para lidar com a actual crise internacional e com a degradação global dos principais indicadores.

Ainda assim, este percurso de desenvolvimento está ainda longe de se poder considerar completo: são necessárias reformas ainda mais aprofundadas susceptíveis de manter o ritmo de crescimento e colocar totalmente de parte a instabilidade que marcou certos períodos da económia brasileira.

Por um lado, persiste uma elevada dívida pública, cujos perigos são acrescidos com a subida iminente dos juros. Para além disso, o sistema da Segurança Social encontra-se longe da sustentabilidade, apesar dos inegáveis resultados positivos alcançados em matéria de redução da pobreza e das desigualdades.

O sucesso do plano lançado pela administração Lula de crescer 5% ao ano, principalmente através de grandes investimentos em infra-estruturas, vai depender muito do sucesso das reformas em curso, incluindo a simplificação do sistema fiscal, as melhorias no quadro laboral e na qualidade das despesas sociais proporcionadas pelos dinheiros públicos. A boa competitividade externa do Brasil vai ainda depender da sua capacidade para prosseguir na senda da abertura dos mercados, reduzindo de forma significativa as suas barreiras ao comércio.

A campanha para as presidenciais de 2010 e as locais que marcam o final do ano de 2008, são dois importantes factores que irão influenciar a evolução das contas públicas, bem como marcar o palco político ao longo dos próximos meses. Um endurecimento da política monetária e fiscal é vista como mais um passo certo para prevenir e responder à crescente deterioração do ambiente global, embora tal não seja totalmente claro no actual quadro de grande competitividade política que se aproxima.

Sem prejuízo, o Brasil é uma das potências emergentes melhor preparada para enfrentar uma eventual deterioração da conjuntura externa, fruto de uma posição significativamente mais forte do que aquela ocupada num passado não muito distante.

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Informação Complementar

O cheiro do petróleo

De todas as matérias-primas que o Brasil exporta, o petróleo foi sempre olhado como um produto de segundo plano, sem grande peso em toda a pauta de exportação. Os números apareceram modestos ao longo dos anos em comparação com os grandes blocos negociadores. As reservas brasileiras estavam, no início de 2007, estimadas em pouco mais de 1% do total das reservas mundiais.

Mas poucos meses depois, a companhia brasileira Petrobrás anunciou a maior descoberta desde o ano 2000: o campo Tupi, e uma outra descoberta mais recente, deverá ser capaz de, só por si, multiplicar por quatro a produção brasileira de petróleo, constituindo um factor importante de estabilização do consumo ao nível interno e um decisivo passo para a ascensão do Brasil no lucrativo mercado internacional da energia.

Tanto este campo Tupi como a nova descoberta, baptizada de Carioca, encontram-se debaixo de um espesso lençol de sal com mais de 800 quilómetros de comprimento e 200 de largura. Ora, muitos especialistas acreditam que esta é uma camada capaz de esconder mais e maiores reservas que deverão ser objecto de análise e divulgação ao longo dos próximos anos, atribuindo ao Brasil um potencial enorme, capaz de juntar o país aos maiores exportadores de petróleo como a Venezuela ou a Arábia Saudita. Uma fonte de receitas que constituiria uma enorme vantagem para a economia brasileira, mas que vai demorar anos a tornar-se produtiva e com custos de exploração elevados.

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* Pedro Pinto

Licenciado em Relações Internacionais pela Universidade Autónoma de Lisboa. Mestre em Desenvolvimento e Cooperação Internacional pelo Instituto Superior de Economia e Gestão. Docente na UAL. Jornalista da TVI.

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Dados adicionais
Gráficos / Tabelas / Imagens / Infografia / Mapas
(clique nos links disponíveis)

Link em nova janela Evolução da produção: petróleo e gás

Link em nova janela Brasil: indicadores selecionados 2002-2008

Link em nova janela Principais exportações, importações, mercados e fornecedores (2007)

Link em nova janela Crescimento económico

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