Pesquisar

  Janus OnLine - Página inicial
  Pesquisa Avançada | Regras de Pesquisa 
 
 
Onde estou: Janus 2009> Índice de artigos > A saúde no mundo > [ Medicinas não convencionais e o mundo de hoje ]  
- JANUS 2009 -



Descarregar texto Descarregar (download) texto Imprimir versão amigável Imprimir versão amigável

ESTE ARTIGO CONTÉM DADOS ADICIONAIS seta CLIQUE AQUI! seta

Medicinas não convencionais e o mundo de hoje

José Leitão Henriques *

separador

A OMS – Organização Mundial de Saúde – define a medicina tradicional como sendo o conjunto de práticas, conhecimentos ou crenças que utilizam medicamentos feitos a partir de plantas, de animais ou de minerais, técnicas manuais, terapias espirituais e exercícios. Estas práticas podem ser utilizadas individualmente ou em conjunto, para diagnosticar, tratar ou prevenir doenças, ou ainda para manter a saúde e o bem-estar das pessoas.

 

Terapêuticas não convencionais

As terapêuticas não convencionais baseiam-se em conceitos muito antigos. Tanto a medicina tradicional chinesa como a medicina Ayurvédica existem há milhares de anos, considerando ambas que para haver saúde, é necessário que a energia vital (chamada qi ou chi , na China, e prana , na Índia) flua correctamente. Naquele tempo, já se considerava que a saúde dependia de um perfeito equilíbrio entre o corpo, a mente e o espírito. Estando também vocacionadas para tratar doentes, estas terapêuticas acabam, na maioria dos casos, por ter uma maior eficácia na orientação das pessoas para se manterem saudáveis e evitarem a doença. Se tivermos em conta que para a OMS, a saúde «é o total bem-estar físico, psíquico e emocional e não apenas a ausência de doença», percebemos facilmente que, pela sua abordagem holística, estas terapêuticas estão mais próximas desta definição do que a medicina convencional. A noção de holismo (do Grego holos = todo) foi introduzida por Jan Smuts (1879-1950), um filósofo e estadista sul-africano que foi duas vezes Primeiro-ministro da África do Sul e fundador da Sociedade das Nações. Segundo ele, este termo significava que o todo é maior do que a soma das partes.

Contrariamente ao que acontecia há uns anos atrás, começam a existir actualmente evidências científicas obtidas através de trabalhos validados com base nos critérios normalmente utilizados nos artigos científicos – randomizados, contra placebo e duplamente cegos, que demonstram a eficácia de acções terapêuticas nas áreas não convencionais, nomeadamente na acupunctura, nas terapias manuais e com determinados medicamentos fitoterápicos. Terminou a era do efeito placebo de que eram acusadas estas terapêuticas. No entanto, para se ser cientificamente rigoroso e honesto, será necessário criar mecanismos diferentes dos actuais para comprovar a eficácia de outras terapêuticas, como a homeopatia, uma vez que esta não pode ser aferida exactamente pelos mesmos parâmetros, tal como se tem pretendido. Como infelizmente essa pesquisa encontra-se frequentemente associada ao retorno financeiro esperado, a investigação nestas áreas nem sempre se torna motivadora.

Nos países desenvolvidos, tem crescido o número de pessoas que recorre a estas terapêuticas.

Nos países desenvolvidos, instalou-se no pensamento das pessoas o conceito do «direito à saúde» quando o que pretendem é o direito à «assistência em caso de doença». Contudo, a saúde não é um direito nem se consegue comprar, é uma conquista influenciada pelo estilo de vida. Como se pode compreender que sociedades que discutem a possibilidade de regulamentação da utilização da colher de pau nos restaurantes, «assobiem para o lado» e deixam que os cereais cheguem a ter o equivalente a quatro pacotes de açúcar de café por 100 gr? Como permite que o aspartame, que se sabe há muito ser nocivo para a saúde, esteja presente em milhares de produtos alimentares? E que dizer do monoglutamato de sódio? E...

 

Acupunctura

A acupunctura faz parte da medicina tradicional chinesa. Ao longo de milhares de anos, a medicina tradicional chinesa desenvolveu teorias e práticas tanto para a prevenção como para o tratamento das doenças. Os primeiros textos a relatarem a teoria da medicina chinesa foram escritos por volta do século V a. C. e descreviam tanto o diagnóstico como o tratamento de uma série de perturbações. Já nessa época eram feitas propostas de alteração do estilo de vida (exercício e alimentação), muito semelhantes às que são recomendadas actualmente, para evitar as doenças crónicas. Nessa época, o médico tinha uma determinada população a seu cargo, recebendo apenas a totalidade do salário, quando não havia doentes; à medida que iam adoecendo pessoas, ele ia sofrendo uma penalização no seu vencimento. Caso alguém morresse por responsabilidade sua, acendiam-lhe uma candeia à porta de casa para que tanto ele como a sua família sofressem a humilhação de todos ficarem a saber.

A acupunctura assenta nas seguintes teorias:

• A ordem do mundo depende do equilíbrio entre o Yin (elemento frio, sombrio e feminino) e o Yang (elemento quente, solar e masculino).

• O corpo humano é percorrido por doze meridianos bem identificados, ao longo dos quais circula a corrente vital qi ou chi .

• A doença é fruto de um desequilíbrio entre o Yin e o Yang que percorrem esses meridianos.

• O universo é constituído por cinco elementos – o fogo, a madeira, a água, o metal e a terra e estes têm influência sobre o organismo humano uma vez que constituem o seu meio ambiente.

A acupunctura está expandida por todo o mundo e é praticada em alguns hospitais do Ocidente, nomeadamente para tratamento da dor crónica ou como anestesia em cirurgias. A China, a Coreia do Norte, a Coreia do Sul e o Vietname são países onde a medicina ocidental e a medicina tradicional se encontram lado a lado no sistema nacional de saúde. A medicina tradicional, na China, tem o seu departamento no Ministério da Saúde, assim como as suas próprias escolas, os seus hospitais e os seus institutos de investigação. Estima-se que cerca de 40% da população chinesa recorre à medicina tradicional sendo as populações rurais aquelas que mais a utilizam (dados da OMS).

Topo Seta de topo

Osteopatia

O termo osteopatia e os princípios pelos quais se rege esta especialidade, foram anunciados pela primeira vez por A. T. Still, nos EUA, em 1874. Este termo, que significa, do ponto de vista etimológico «doença dos ossos», trouxe alguma confusão pois o que ele pretendeu transmitir foi que descobriu que qualquer alteração na função do sistema músculo-esquelético e articular (osteo), por mais pequena que seja, pode provocar um número importante de alterações tanto localmente como à distância (patia), acrescentando:

• Existe uma relação de dependência recíproca entre a estrutura e a função.

• O corpo humano funciona como uma unidade.

• O organismo tem a capacidade de auto-regulação.

O primeiro curso de osteopatia iniciou-se com apenas 17 alunos, em Outubro de 1892, na American School of Osteopathy – ASO, em Kirsville, no Missouri; oito anos depois, em 1900, cerca de 1000 alunos frequentavam essa escola.

Actualmente, existem nos EUA 28 Universidades de Medicina Osteopática. A Califórnia, em 1901, foi o primeiro estado a reconhecer a especialidade e o Nebrasca o último, em 1989. A expansão da prática osteopática propagou-se para o estrangeiro e a primeira escola europeia foi fundada em 1917, em Londres.

A Inglaterra, em 1993, foi o primeiro país europeu a regulamentar a osteopatia, tornando-a uma especialidade autónoma e independente. Essa independência faz com que os osteopatas britânicos dependam exclusivamente do General Osteopathic Council – GOsC. Noutros países pertencentes à Commonwealth, a prática da osteopatia está regulamentada juntamente com a da quiroprática; a África do Sul, em 2000, a Austrália, em 2004, e a Nova Zelândia, também em 2004, são disso exemplos.

A Federação Europeia de Osteopatia – FEO – foi criada em 1992 sendo a representante das associações profissionais dos diferentes países europeus junto da Comunidade Europeia. Desde 1999 que a prática da osteopatia foi reconhecida como sendo uma profissão liberal, pelo Conseil Européen des Professions Libérales – CEPLIS.

A OMS pretende ajudar a criar um currículo universal para a osteopatia, o que não vai ser uma tarefa fácil dada a grande diferença existente entre os americanos, que, na sua maioria, adoptaram uma abordagem médica, e os europeus, que se mantiveram fiéis aos seus princípios. Alguns profissionais oriundos de diversos países do mundo (Austrália, países da América Latina, Japão, EUA e países da Europa), preocupados com o rumo da profissão, criaram em 2003, em Portugal, a convite da AROP – Associação e Registo dos Osteopatas de Portugal, a WOHO – World Osteopathic Health Organization, uma associação que pretende debater e pensar um currículo académico focalizado nas origens da osteopatia e restituindo-lhe a ênfase dada à sua abordagem manual tanto do ponto de vista do diagnóstico como do tratamento.

Após a Primeira Guerra Mundial, e de acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA, a taxa de mortalidade dos doentes com «gripe espanhola» ou «pneumónica» que recorreram à medicina convencional foi de 2,5%, enquanto que nos que foram seguidos por osteopatas foi inferior a 0,25%.

 

Homeopatia

É utilizada pela família Real Britânica desde 1830. A propósito da homeopatia, Gandhi disse «ser o mais fino método que existe para tratar pessoas de uma maneira económica e segundo os princípios da não-violência [...]. O governo deve encorajar o seu emprego e favorecer o seu desenvolvimento no nosso país».

O Dr. Samuel Hahnemann fundou a homeopatia há mais de 200 anos, baseando-se na lei da semelhança resumida na frase em latim similia, similibus curantur . Em homeopatia, é dada ao paciente, numa dose infinitesimal, a substância que produziu os sintomas semelhantes aos que ele apresenta, quando foi administrada em doses elevadas a pessoas consideradas sãs. Contrariando o raciocínio a que se está habituado, um medicamento homeopático torna-se mais potente à medida que vai sendo diluído; essa capacidade é energética e é-lhe conferida pela sucussão a que é sujeito, durante a sua preparação. Os remédios homeopáticos podem ser fabricados a partir de substâncias de origem vegetal, mineral ou animal e a sua utilização pode ser feita de forma unicista (uma única substância que cobre os sintomas da pessoa), pluralista (recorrendo a vários remédios) ou complexista (um medicamento que é um composto de várias substâncias).

A homeopatia está bastante divulgada em todos os continentes, calculando-se que é praticada em mais de 80 países, representando um número estimado em cerca de 300 milhões de pacientes. Por esse motivo, é considerada pela OMS como o segundo sistema de cuidados de saúde primários mais utilizado no mundo. A maior concentração de praticantes encontra-se na Europa, em países como a Alemanha, a França, ou a Inglaterra, na América Latina – Argentina, Brasil, México, por exemplo, e na Ásia – Índia e Paquistão; noutros países como a Austrália, a África do Sul, o Canadá e os EUA, a homeopatia está em crescimento.

A homeopatia é comparticipada pelo sistema nacional de saúde, em alguns países. Estima-se que, em Inglaterra, cerca de 45% dos clínicos gerais consideram a homeopatia útil, pelo que a recomendam.

Em França, todas as farmácias vendem produtos homeopáticos e é precisamente um medicamento homeopático o remédio mais vendido no país. Em Portugal, no século XIX, já havia farmácias homeopáticas.

A British Homeopathic Society foi fundada em 1844 e o British Homeopathic Journal publica ininterruptamente desde esse ano.

Em 1854, houve um surto de cólera em Londres. A mortalidade das pessoas tratadas no Hospital Homeopático de Londres foi de cerca de 16,4% enquanto nos outros hospitais rondou os 50%.

A homeopatia faz parte do Serviço Nacional de Saúde inglês desde 1948. Existem cinco hospitais homeopáticos no Reino Unido (Bristol, Glasgow, Kent, Old Swan e Londres).

Madre Teresa adoptou a utilização da homeopatia nas suas missões abrindo o primeiro dispensário em Calcutá, em 1950. O seu interesse por esta especialidade deveu-se sobretudo à sua eficácia, associada ao baixo custo que representa.

A homeopatia é bastante utilizada em medicina veterinária.

 

Fitoterapia

A fitoterapia é uma das terapêuticas não convencionais mais utilizadas em conjunto com a medicina convencional e consiste no uso da acção farmacológica das plantas para fins terapêuticos A utilização das propriedades das plantas para fins curativos é o método terapêutico mais antigo utilizado pelo homem, ao longo da história. A palavra «droga» deriva do holandês «droog», que significava secar, pois era à prática da secagem que os farmacêuticos e os curandeiros recorriam com mais frequência para utilizarem as plantas com fins curativos.

Existem escritos antigos redigidos por monges da Idade Média que descrevem propriedades das plantas. A farmacologia tem estudado ao longo dos anos os princípios activos das plantas para a sua utilização na indústria farmacêutica.

As aplicações terapêuticas possíveis através da fitoterapia são de tal maneira vastas que são impossíveis de descrever. A OMS publicou uma série de documentos relativos a este assunto e chamou a atenção para a necessidade de saber manusear bem os produtos fitoterápicos pois, reconhecendo-lhes indicações terapêuticas, chamam a atenção para as contra-indicações possíveis, tais como interacção com outros medicamentos ou toxicidade, por exemplo. A investigação em fitoterapia nunca foi tão fecunda no plano internacional como tem sido nestes últimos anos e a sua utilização continua a ser muito bem aceite pela opinião pública.

 

Conclusão

Provavelmente pelo facto da tradição das práticas não convencionais ser muito individualista, tem sido difícil obter-se uma organização colectiva das mesmas, o que tem como consequência o seu enfraquecimento. Contudo, nalguns países do mundo, nomeadamente em Inglaterra e outros países da Commonwealth, foi possível legislar com sensatez, de maneira a criar padrões de exigência mínimos para que possa existir uma autonomia profissional com responsabilidade e sem perigo para a saúde pública. A única medicina é aquela que trata os doentes acima de qualquer interesse e sob o ponto de vista clínico e funcional com o menor peso terapêutico possível Primum non nocere.

separador

Topo Seta de topo

Informação Complementar

Alguns dados fornecidos pela OMS

No Canadá, 70% da população recorreu, pelo menos uma vez, às terapias não convencionais.

Na Alemanha, 90% da população confirmou ter utilizado, pelo menos uma vez, um remédio natural.

Nos países mais desenvolvidos, como os da Europa e da América do Norte, mais de 50% da população recorreu, pelo menos uma vez, às terapias não convencionais.

Em São Francisco, em Londres ou na África do Sul, cerca de 75% das pessoas portadoras do vírus HIV ou com SIDA recorrem à medicina tradicional chinesa ou a outras formas de terapias não convencionais.

No Reino Unido, são gastos anualmente perto de 200 milhões de euros com as terapias não convencionais.

No Gana, no Mali, na Nigéria e na Zâmbia, o primeiro tratamento recebido por 60% das crianças com febres altas, resultantes da malária, é em casa, com plantas.

separador

* José Leitão Henriques

DO, DHom. European School of Osteopathy, Maidstone, Inglaterra. International Affiliate Member na American Academy of Osteopathy. Membro da European Federation of Osteopaths. Membro da Faculty of Homeopathy de Londres.

separador

Dados adicionais
Gráficos / Tabelas / Imagens / Infografia / Mapas
(clique nos links disponíveis)

Link em nova janela EUA: Universidades de Medicina Osteopática

Topo Seta de topo

 

- Arquivo -

Clique na edição que quer consultar
(anos 1997 a 2008)
_____________

2008

2007

2006

2005

2004

2003

2002

2001

1999-2000

1998

1998 Supl. Forças Armadas

1997