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Arte portuguesa e europeia nos sécs. XIX e XX

José Augusto França*

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A arte portuguesa situou-se no quadro histórico europeu em relação a duas correntes generativas maiores, romana e parisiense, definidas sucessivamente ao longo dos séculos XIX e XX, delas recebendo necessária influência.

No século XIX começa em Portugal com a construção do Palácio Real da Ajuda (1802) que ia finalmente substituir aquele que o terramoto de 1755 destruíra no Terreiro do Paço, edifício do século XVI de traça castelhana.

Após hesitação sobre o programa inicialmente barroco, foi adoptado um projecto neoclássico directamente inspirado no Palácio Real de Caserta, em Nápoles, de Vanvitelli, desenho de J. Costa e Silva (1747-1819) que estudara em Bolonha e teve associado na obra o bolonhês F. S. Fabri. Costa e Silva projectara já o teatro da Ópera de S. Carlos (1792) informando-se em edifícios congéneres de Nápoles e de Milão – e as duas obras marcam a presença italiana na passagem do século, num quadro europeu generalizado.

Ela definira-se também na decoração pictural da Basílica da Estrela (1779-1789), encomendada ao famoso pintor romano P. Batoni, e na própria Ópera, nas decorações de Appiani e Mazzoneschi. Se os escultores do Palácio da Ajuda cumpriram ainda um gosto tardo-barroco (que Machado de Castro dominava) já entre eles tomou lugar J. Aguiar (1769-1841), que se formara em Roma junto de Canova e ali produzira o monumento de D. Maria I com as suas estátuas alegóricas.

A formação do escultor corresponde à dos pintores D. A. Sequeira (1768-1837) e Vieira Portuense (1765-1805). Se este esteve também em Londres, Sequeira romperia a tradição romana numa prática parisiense, em 1824, para voltar a Roma e ali falecer. Se ambos participaram na direcção da decoração do Palácio da Ajuda, esta foi obra de artistas mais modestos, uma vez que se malogrou a ideia de entregar o programa a E. Vigée-Lebrun, famosa pintora internacional. Em Londres Vieira Portuense conhecera F. Bartolozzi, que por ele foi trazido para Lisboa, com grande influência na prática local da gravura.

O princípio do século viu ainda pintores italianos (D. Pelligrini) e franceses (A. J. Nöel, N.L.A. Delerive e, antes, J. Pillement) em Lisboa ou no Porto embora as invasões dos exércitos de Napoleão (1807-1810) tivessem paralisado a vida artística nacional, só animada ideologicamente com a Revolução de 1820, graças à actividade multímoda de Sequeira, logo depois, e por causa disso, exilado político em Paris — onde, para o famoso "Salon" de 1824, realizou a primeira pintura romântica portuguesa, sobre "A Morte de Camões", em paralelo com o grande poema de Garrett ("Camões") que, igualmente exilado, escreveu a primeira peça poética do romantismo nacional.

Numa Lisboa que se ia reconstruindo lentamente, a paz de 1834, após a vitória liberal, deu ao arquitecto Possidónio da Silva, que regressava de uma formação parisiense, ensejo para propor a conclusão do Palácio da Ajuda, sem realização possível pelos custos, e a sua carreira ficou para sempre prejudicada quando P. J. Pézerat, que já trabalhara no Brasil, trouxe para Lisboa uma mais definitiva influência francesa, nos anos 40 a 60. A concorrência das obras apreciadas dos italianos F. Lodi e G. Cinatti e do gosto germano-romântico do rei-consorte Fernando de Coburgo foi, porém, importante então, e de novo em 1880, outro arquitecto formado em Paris, J. L. Monteiro, teve concorrentes em italianos entretanto chegados (N. Bigaglia, J. Manini), e só em 1895 o jovem Ventura Terra acabaria por impor o gosto ecléctico francês que praticara em Paris, numa vasta obra que a morte interrompeu em 1919.

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Se, tal como o pintor H. Pousão, o escultor Soares dos Reis (1847-1889) ficou fiel a uma aprendizagem romana originalmente assumida no seu "Desterrado" (1874), e seja M. A. Lupi em França, recebera uma primeira informação "académica", entretanto uma nova geração de pintores formara-se em Paris, de lá trazendo, cerca de 1880, a notícia original do naturalismo de Barbizon (Silva Porto, Marques de Oliveira, A. Ramalho, Carlos Reis) ou um academismo talentoso (Veloso Salgado) que ganhou a escultura de Teixeira Lopes, ou um simbolismo mais restrito (A. Carneiro).

Mantendo-se uma referência cultural visivelmente francesa na vasta obra do grande caricaturista Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905), porém, os dois maiores pintores dos finais do século XIX e primeiro terço do século XX, Columbano B. Pinheiro (1857-1929) e J. Malhoa (1855-1933), ficaram alheios às novas correntes do impressionismo, definindo uma dupla e oposta situação nacional, de ensimesmamento urbano e de gosto popular e rural.

Nos anos de 1910, a influência generalizada de Paris exerceu-se sobre uma nova geração de artistas desejosos de horizontes estéticos inéditos, e, já para além de ensinos académicos e de bolsas de estudo, foram os casos de Amadeo de Sousa Cardoso (1887-1918) ou de Eduardo Viana (1881-1967), num modernismo sobretudo polémico em Amadeo, com experiências cubistas, futuristas e abstractas, que a criação literária do grupo do "Orpheu" acalentava com Fernando Pessoa e Almada Negreiros. Nos anos 20 e 30, na escultura recebeu influência "arts-déco" Canto da Maia, instalado em Paris, e, na arquitectura, Cristino da Silva, que de lá regressou em 1925. Mas, na pintura de então, o gosto parisience traduziu-se em termos cosmopolitas que, no após-guerra, abriu perspectivas a um movimento surrealista (A. Pedro, A. Dacosta, Vespeira, F. Azevedo, F. Lemos, M. Cesariny) que cedo levou ao abstraccionismo, ainda inicialmente de via parisiense, e às propostas imaginosas do Grupo KWY (Lourdes Castro, Bertholo, Escada) em Paris nos anos 60.

A partir dos anos 60, as relações europeias (e logo também americanas) da arte portuguesa minoraram a influência francesa, como internacionalmente aconteceu. Com a grande excepção de M. H. Vieira da Silva (1908-1992) que deu à Escola de Paris um dos seus maiores valores do terceiro quartel do século, ou de Paula Rego e de Bartolomeu Santos, que preferiram Londres, já em anos 50, tal como os escultores J. Cutileiro e J. Vieira.

Desde 1950, graças à Fundação Gulbenkian, grandes exposições trouxeram as artes francesa, inglesa, italiana, sobretudo a Lisboa, enquanto várias exposições portuguesas, depois da instauração democrática de 1974, puderam levar à Europa notícias da arte nacional, nomeadamente na grande exposição do século XIX, "Soleil et Ombres", em Paris, em 1987. 

 

Informação Complementar

Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992)

Nasceu em Lisboa numa família de grande burguesia mas, órfã de pai, instalou-se em Paris em 1928 para estudar pintura, cedo conhecendo um jovem pintor húngaro, Arpad Szènes, com quem casou, integrando-se a pouco e pouco na animada vida artística parisiense de entre-as-duas guerras, frequentou o ensino de F. Léger e de R. Bissière e teve uma primeira exposição em 1932.

Só ocasionalmente voltou a Lisboa e, em 1940, o casal partiu para o Rio de Janeiro onde permaneceu o tempo da guerra, regressando depois a Paris para retomar uma carreira que, desde os anos 50, assumiu uma importância internacional, fazendo da pintora uma das referências maiores da "École de Paris". Naturalizada francesa em 1956, juntamente com o seu marido, a quem fora recusada a nacionalidade portuguesa, Vieira da Silva só foi realmente reconhecida em Portugal graças a uma grande exposição retrospectiva organizada na Fundação Gulbenkian, após muitas outras, na Alemanha, na Suíça, em Itália, na Holanda, na Noruega; em 1978, o governo do novo regime democrático português conferiu-lhe finalmente a grã-cruz da Ordem de Santiago. À sua morte, e conforme seu testamento, uma Fundação – museu foi criada em Lisboa, reunindo o nome de Vieira da Silva ao de Arpad Szènes, falecido em 1985, a quem a pintora ficou devendo uma afectuosa orientação crítica que na sua obra se manifesta. Como nela transparece uma grata lembrança de luminosas arquitecturas lisboetas reflectidas nos azulejos das suas fachadas antigas.

 

José de Almada Negreiros (1893-1970)

Nascido em S. Tomé mas educado em Lisboa, foi poeta e novelista de profunda originalidade desde 1915 (“A Cena do Ódio” ou " A Engomadeira", e "Quadrado Azul", 1917), com um imaginário futurista e para-surrealista que o situou a par do seu amigo Fernando Pessoa. O poema-memorialista de 1921, "A Invenção do Dia Claro" e o romance "Nome de Guerra" (1925, pb. 1938) ou a peça teatral "Deseja-se mulher” (1928) confirmam um valor literário inédito na cultura portuguesa – que, a partir de finais dos anos 20, foi partilhado por uma criação plástica de grande desenhador e pintor. Como tal, Almada realizou, em 1946-49, os frescos das gares marítimas de Lisboa numa linguagem neocubista, obra-prima da pintura portuguesa de meados do século, seguindo-se composições abstractas que culminaram, em 1969, na parede incisa da Fundação Calouste Gulbenkian, onde a composição "Começar" propõe um largo e original espectro conceptual de antigas raízes gregas e do renascimento geométrico italiano de Leonardo e Paccioli.

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* José Augusto França

Doutorado em Letras pela Universidade de Paris. Professor Jubilado na Universidade Nova de Lisboa.

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