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- JANUS 2007 -



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Aga Khan IV: o príncipe xiita

Faranaz Keshavjee *

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Líder espiritual de cerca de 15 milhões de Ismaelitas, a segunda maior comunidade xiita do mundo, com crentes espalhados por mais de 200 países, descendente directo do Profeta Muhammad, com quase 70 anos de vida, e perto de 50 de Imamato, o Aga Khan é um homem que conhece bem e com grande profundidade as realidades dos mundos ocidental e oriental.

Com ascendência familiar que passa pelo Médio Oriente, Irão, Iraque, Índia, tendo nascido na Suíça, vivendo em França, com passaporte britânico, e com estudos em escolas ocidentais, incluindo a Universidade de Harvard, o seu enorme conhecimento do mundo resulta não apenas da vivência e história pessoal, mas também porque, ao tornar-se o líder espiritual dos Ismaelitas aos 20 anos de idade, teve a possibilidade de conhecer de perto todas as realidades em que vivem e viveram os seus fiéis, e de acompanhar, a par e passo, todas as transformações pelas quais passaram, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, e depois de todos os processos de descolonização e integração em novas realidades geográficas, sociais e políticas.

Além do trabalho que vem desenvolvendo junto dos Ismaelitas, e continuando a obra iniciada pelo seu avô, o sultão Muhammad Shah, Aga Khan III, no sentido de contribuir para a organização e modernização destas comunidades, o Aga Khan IV fundou a Rede para o Desenvolvimento Aga Khan (AKDN). Opera essencialmente nas sociedades em desenvolvimento, e em particular, nos países da Ásia, África, Afeganistão, Ásia Central, e em parceria com organizações privadas ou públicas, incluindo a Comissão Europeia, e agora o Governo português. O âmbito das intervenções da Rede cobre as áreas de combate à pobreza, cuidados de saúde primários, desenvolvimento rural, microcrédito, universidades, hospitais, academias de excelência, prémios de arquitectura, apoios para cidades históricas, entre outras.

Líder de carisma religioso, o Aga Khan IV vê no seu ofício a combinação de uma responsabilidade dupla que, de resto, contrasta, por exemplo, com o exercício do papado no catolicismo. Para o Aga Khan, a vida espiritual e a vida material são “duas faces da mesma moeda”, e o equilíbrio harmonioso entre ambas, a din e a dunya , são uma “forma de vida”.

“ Um dos elementos centrais da fé Islâmica é a natureza inseparável da fé e do mundo. Os dois estão tão profundamente entrelaçados que não se pode imaginar a sua separação. Eles constituem “uma forma de vida”. O papel e a responsabilidade de um Imã é, portanto, o de simultaneamente interpretar a fé para a comunidade, e fazer todos os possíveis para melhorar a qualidade e a segurança das suas vidas. Surpreende-me e fico algo frustrado quando os representantes do mundo ocidental – especialmente os media ocidentais – tentam descrever o trabalho da Rede para o Desenvolvimento Aga Khan nos campos da educação, saúde, economia, media , e a construção de infra-estruturas sociais. Reflectindo uma certa tendência histórica do Ocidente de separar o secular do religioso, eles descrevem-no comummente como filantropia ou empresarial. O que não é entendido é que este trabalho é para nós parte da nossa responsabilidade institucional – faz parte da função do ofício do Imã o melhoramento da qualidade de vida material das comunidades em causa. ” (1)

Em Fevereiro deste ano, a Universidade de Évora honrou o Aga Khan com o grau de Doutoramento Honoris Causa , e contou para a ocasião com notáveis personalidades da vida pública e política de Portugal, incluindo o então presidente da República, Dr. Jorge Sampaio. Dois meses antes, o Aga Khan assinara um protocolo de cooperação e desenvolvimento com o Governo português e com o Patriarcado de Lisboa.

O trabalho institucional e as obras que vai construindo, premiando e patrocinando através das suas instituições, bem como o reconhecimento internacional pelos graus honoríficos que vai recebendo, e as posições assumidas por membros da sua família na direcção das Nações Unidas, reflectem, em grande medida, uma preocupação e vontade de intervir, não numa perspectiva de missionação ou evangelização, mas como parte activa da sociedade humana comprometida eticamente no bem-estar, segurança e prosperidade das sociedades. Nesse processo contributivo, pretende-se mostrar que as comunidades religiosas, em conjunto com as quais se pode e deve construir, podem ser úteis na gestão dos assuntos comuns porque partilham, do ponto de vista ético, de valores que são universais.

Nesta linha de orientação, a democratização das sociedades tem merecido especial reflexão. Para o Aga Khan, é importante notar que 40 por cento das sociedades democráticas no mundo são democracias falhadas. A corrupção, a incapacidade de construir sociedades pluralistas, o desconhecimento de uns sobre os outros, a educação medíocre, parcial, redutora e enviesada; a incompetência na execução de tarefas de alta responsabilidade, sobretudo em cargos políticos, que depois surge desresponsabilizada, e os meios de comunicação que existem não para informar mas para entreter, são factores que contribuem para o falhanço das democracias.

Como parte da responsabilidade que assume enquanto Imã do Tempo, o Aga Khan, acompanhado dos membros da sua família, e confiando nos saberes e valências das suas comunidades, vai intervindo através da sua AKDN. Ao mesmo tempo, como intelectual e profundo conhecedor da realidade internacional, reflecte publicamente o seu desejo de ver actuar democracias de sucesso. Para ele, estas são as que valorizam o pluralismo , onde o diferente se revê na história, sociedade e cultura; que consideram a mais-valia da contribuição da sociedade civil , deixando intervir comunidades e organizações privadas para a gestão de assuntos aos quais, sozinhos, os governos locais não são capazes de dar resposta; democracias que, acima de tudo, se preocupem com a educação de excelência , combatendo a ignorância e integrando o conhecimento das civilizações históricas que contribuíram para a modernidade, incluindo a formação sobre o conhecimento mais básico das civilizações islâmicas, sem o que permaneceremos nesta irremediável realidade de que, a haver um choque, esse será sempre um “choque de ignorâncias”.

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1 - Extracto de discurso de Sua Alteza Aga Khan por ocasião do recebimento do Prémio “Tolerância” pela Academia Evangélica de Tutzing, Alemanha, em 20 de Maio de 2006.

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* Faranaz Keshavjee

Licenciada em Antropologia Social e Mestre em Psicologia Social pelo ISCTE. Mestre em Estudos Islâmicos e Humanidades pelo Institute of Ismaili Studies - IIS Londres. Candidata a Doutoramento pela Universidade de Cambridge, Faculdade de Ciências Sociais e Políticas. Colunista do PÚBLICO. Tutora do curso de Turismo Religioso pela Universidade Católica. Tradutora de obras publicadas pelo IIS – Londres.

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